“Um Final Fantasy para fãs e novatos” é com essa frase que somos apresentados ao mais novo game – “Final Fantasy XV” – de uma das principais séries da história dos vídeo games, mas será que isso é garantia de que temos um bom jogo? É sobre isso que quero escrever pra vocês hoje, então sem mais delongas…
História
“Final Fantasy XV” é mais um jogo que aposta na tendência de contar a historia muito além do próprio jogo. Paralelamente ao game foram desenvolvidos curtas metragens que contam a historia de cada um dos quatro personagens principais e como eles se tornam amigos. Junto a isso foi criado também um filme que serve praticamente como um prelúdio do game, pois demonstra o inicio dos fatos que se desenrolam no jogo.
Tendo em vista toda essa “preparação” para o que estava por vir no jogo, esperava-se que a história do game fosse rica em detalhes e com um ritmo interessante, mas infelizmente não é o que acontece. Basicamente o jogo só começa a empolgar e gerar interesse nos acontecimentos a partir do momento em que a história se torna linear e o problema disso é que para alcançar esse estágio você já jogou pelo menos a metade do game.
No fim a história até se mostra interessante, com várias reviravoltas e até algumas surpresas, pena que como dito anteriormente, isso demore a engrenar, já que metade de um jogo como esse pode ser diversas horas.
Jogabilidade
Antes mesmo de jogar “Final Fantasy XV” eu já tinha certo preconceito por algo que estava por vir, o sistema de combate. Sou um saudosista do sistema por turnos e confesso que esse novo modo “hack-n-slash” que vem sendo utilizado nos RPGs mais atuais me incomoda bastante.
No momento que comecei a jogar minhas preocupações com o sistema se tornaram ainda maiores, tendo em vista que vários elementos clássicos da série Final Fantasy haviam se tornado muito menos importantes em qualquer combate, como por exemplo, as magias e as invocações ou summons.
O sistema de criação das magias é restrito a combinações feitas entre três elementos (fogo, gelo e trovão) com itens que adicionam algum tipo de efeito – cura, ganho de experiência, etc. – a cada magia criada. Outro grande problema que encontrei é que diferentemente de outros jogos, neste as magias que você equipa em seu personagem ocupam espaços de outros equipamentos como armas ou escudos, o que faz a sua utilização bem restrita e limita e muito a estratégia que você poderia utilizar em batalha.
Já as invocações – que geralmente são criaturas com um alto poder de dano – neste jogo são tratadas como divindades que ajudam o rei quando o mesmo precisa equilibrar algo durante o seu reinado e por esse motivo em “Final Fantasy XV”, não é possível invocá-los no momento que você achar necessário. Neste jogo eles aparecem aleatoriamente, dependendo da situação da batalha que você está enfrentando. A explicação para isso é até aceitável, já que claramente o intuito no jogo foi mostrar a superioridade desses seres e que eles ajudam você quando julgam necessário, mas em termos de estratégia isso é bastante frustrante.
Mas o sistema de batalhas iria me surpreender ainda mais de acordo com o decorrer do game e no momento em que apareceu um sistema “live action” – como o encontrado em jogos como “God of War” – onde botões aparecem na tela e ao apertá-los o personagem executa alguma ação. Foi aí que eu percebi que o sistema clássico de batalhas de um RPG havia sido enterrado nesse Final Fantasy.
Vale ressaltar que o sistema em si não é ruim e que funciona muito bem para o modelo que foi proposto a atender e que as críticas que fiz até aqui são de um jogador que gostaria de ver mais RPG e menos ação em um jogo como este.
Dando o assunto batalha como encerrado e partindo para os demais elementos da jogabilidade eu gostaria de destacar mais três quesitos.
Primeiro – e menos importante – eu gostaria de falar sobre a infeliz escolha de se colocar o botão de ação juntamente com o botão de salto do personagem, não raramente você chega perto de um objetivo ou NPC e ao tentar interagir com eles o personagem fica pulando na frente deles. Isso é algo que não influencia o seu gameplay de forma que atrapalhe, mas sinto que era um problema simples de ser evitado.
O segundo quesito a ser comentado é a questão da locomoção. Final Fantasy XV é um RPG com um mundo aberto vasto e sinceramente, a locomoção se tornou demasiadamente lenta e de maneira desnecessária. Para ir de um ponto ao outro você possui algumas opções, a pé, chocobo ou mesmo de carro, mas mesmo que você escolha um meio que teoricamente iria agilizar esse deslocamento – como o carro – não será difícil você encontrar percursos que levem mais de 5 minutos para serem realizados. As viagens rápidas podem diminuir um pouco deste problema reduzindo muitas vezes o percurso a ser executado a alguns metros, mas de qualquer forma os carregamentos necessários para isso se tornam maçantes com o desenrolar do tempo gasto no jogo.
Por último gostaria de comentar sobre o sistema de missões paralelas. Confesso que pensei em retirar esse “problema” da analise, tendo em vista que tenho percebido essa dificuldade em todos os atuais jogos com mundos abertos. Claramente as missões secundárias desse jogo foram pensadas como forma de explorar as habilidades de cada um dos personagens – Noctis (pescaria), Gladious (exploração), Ignis (culinária) e Prompto (fotografia) – o grande problema aqui está na variedade dessas missões. Você muito provavelmente irá se cansar de ter que ir colher algo – para uma nova receita do Ignis ou para entregar a um vendedor – ou correr até algum lugar simplesmente para tirar uma foto – novamente para o seu personagem ou para entregar a algum NPC.
Gráficos
“Final Fantasy XV” não traz grandes novidades nos gráficos apresentados durante o gameplay em si, não que isso seja um sinal de má qualidade muito pelo contrário. Seus gráficos podem ser comparados com jogos já lançados na atual geração de consoles – como “The Witcher 3”.
O grande destaque gráfico do jogo fica por conta das cenas em computação gráfica, essas sim trazem uma qualidade bem acima da média se comparando, por exemplo, ao bom trabalho que foi entregue no filme do próprio jogo Kingsglaive.
Localização
Se você é daqueles jogadores que gosta de ouvir os personagens falando o seu idioma eu não tenho uma boa notícia pra você. “Final Fantasy XV” possui somente legendas em português, ficando a dublagem dos personagens disponível apenas em inglês e japonês.
Levando em consideração o trabalho de tradução da legenda eu diria que foi um trabalho muito bem elaborado, principalmente na tradução de alguns momentos mais descontraídos das falas dos personagens onde foi tomado o cuidado de utilizar gírias e costumes da nossa língua, mesmo isso alterando um pouco do sentido da fala original. Esse tipo de imersão no idioma é algo positivo no momento de se localizar um jogo.
Bugs
Como não poderia ser diferente, em um jogo dessa magnitude os bugs aconteceram, mas com exceção de um, nenhum deles chegou a atrapalhar de alguma maneira o jogo.
O primeiro problema que encontrei jogando Final Fantasy XV foi o atraso no carregamento de alguns elementos gráficos – principalmente sombras – não raramente você se depara com algum erro desse tipo, seja uma pedra que aparece “do nada” no cenário, a sombra de um elemento da cena que só aparece depois de algum tempo, ou inimigos que simplesmente surgem a sua frente em um local que aparentemente nada existia.
O segundo problema que encontrei foi a falta da trilha sonora. Por duas vezes durante as mais de setenta horas que joguei, a música que estava rolando ao fundo devido a uma batalha simplesmente se calou, perdendo um pouco do clima que havia na cena, mas que na verdade não influenciou em nada no prosseguimento do jogo.
Outro problema que encontrei – que não chegou a influenciar no desenrolar do jogo, mas incomodou bastante – foi o travamento da câmera. Durante o gameplay você pode utilizar o analógico direito para movimentar a câmera, de forma que possa visualizar melhor uma cena ou pelo menos se posicionar melhor em uma batalha e foi justamente essa movimentação que simplesmente travou, fazendo com que eu tivesse que andar pelo cenário ou enfrentar batalhas com um ângulo de câmera estático. Tendo em vista que isso aconteceu dentro de uma das Dungeons – missões em locais fechados e com um nível de dificuldade maior e onde não se pode salvar o progresso – do jogo, tive que jogar com esse problema por um certo tempo até que o mesmo se solucionasse automaticamente.
Por último o maior de todos os problemas – que influenciou no desenrolar do jogo – foi o travamento total do jogo durante o carregamento no inicio de um dos capítulos, fazendo com que eu tivesse de reiniciar todo o jogo para que pudesse prosseguir. Por sorte o estrago não foi maior, pois havia salvado o jogo pouco antes, fazendo com que eu não perdesse tanto progresso.
Avaliação
“Final Fantasy XV” é um título que a muito vem sendo esperado, anunciado na E3 de 2003 o jogo passou por mais de 10 anos de desenvolvimento (não deixe de ouvir nosso podcast sobre o assunto clicando aqui), trocou de plataforma – inicialmente foi anunciado para o PlayStation 3 – e até mesmo de nome já que se chamava Final Fantasy Versus XIII. Com tudo isso foi gerada uma expectativa gigantesca ao redor do game e que não minha opinião acabou não se concretizando.
O fato de o jogo ter deixado de lado o lado mais RPG e focado em algo mais “ação” foi pra mim o maior dos pecados, cada vez mais estamos caminhando a jogos desse nível, em que qualquer tipo de pensamento estratégico é desnecessário. Em “Final Fantasy XV” nem mesmo o nível de seus personagens influencia tanto, já que mesmo que você esteja vários níveis acima do recomendado para uma missão não irá te garantir uma vida fácil.
Sei que o modo como os RPGs eram desenvolvidos nas outras gerações é um pouco desconexo do que se pode fazer hoje em dia, mas não acho que a nova maneira de se fazer esteja contribuindo para o que esse tipo de jogo deveria ter como base.
Final Fantasy XV é um excelente jogo, mas que pouco apresenta e contribui com o gênero RPG ao qual até então sempre vinha representando muito bem. Pode ser que isso venha a se tornar uma tendência e que cada vez mais tenhamos que recorrer a jogos antigos para que possamos nos lembrar das estratégias de batalha e de evolução de personagens e de histórias complexas, duradouras e com um excelente nível de detalhes.