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DayTripper – Mostrando a beleza do Brasil e dos quadrinhos nacionais.

No Brasil existe em muitas esferas o complexo de vira lata, uma espécie de aversão quando se fala que algo nacional pode ter a mesma qualidade ou ser melhor do que algo importado. Você já deve ter visto alguém dizer que filmes ou músicas feitas no Brasil não são boas, muitas vezes sem ao menos ter tido contato com estes trabalhos.

Nos quadrinhos a conversa não é diferente, os leitores que se aventuraram por esse mundo (apesar de muitos começarem por “Turma do Mônica” como eu) vão para obras estrangeiras em busca dos famosos heróis da Marvel, DC, Vertigo ou atrás das histórias de mangás japoneses. Porém existem muitas histórias incríveis e trabalhos artísticos fantásticos e de alto nível em terras Tupiniquins e é por isso que para o início desta coluna trago um de meus quadrinhos favoritos. Sim um feito por Brasileiros: “DAYTRIPPER”.

“Eu queria escrever sobre a vida Jorge, e olha pra mim agora eu só escrevo sobre a morte”

Brás de Oliva Domingos é um redator de obituários, um garoto descobrindo o amor, um escritor em busca do próprio caminho, um aventureiro jovem em busca de autoconhecimento e é um velho que admira a vida.

Nas páginas de “Daytripper” encontramos todos estes Brás, todas estas vertentes de diferentes fases de sua vida, cada capitulo narra uma idade, um acontecimento, um momento único em sua vida que é sempre marcado pela morte. Ao final de cada um dos 12 capítulos, Brás escreve seu próprio obituário como os muitos que escreveu em sua vida adulta em um jornal de São Paulo.

Essa Dicotomia entre a vida e a morte trás uma beleza única a obra, pois cada suspiro de vida e momento marcante de uma descoberta pessoal é marcado como último deixando o leitor em dúvida em qual é realmente o verdadeiro fim para Brás.

A história é marcada por ambientes clássicos do Brasil, como Salvador, São Paulo, um sítio de interior. É magico ver os detalhes da vida brasileira como carros típicos, filtro de barro, mercados e construções tradicionais. O cuidado com a ambientação é algo que enriquece profundamente a obra e tira nossa cabeça de cenários americanizados dos quadrinhos.

Em “Daytripper” o leitor vai em algum momento se identificar com os fatos narrados na vida de Brás como o primeiro beijo, o primeiro amor, desilusões amorosas, o encontro do amor verdadeiro, a despedida de entes queridos, o encontro de sua real vocação de vida e sua velhice refletindo o sentido de tudo isso.

O simples transformado em fantástico elevando cada momento de sua vida ao máximo quando tido como último.

Em suma os irmãos Fabio Moon e Gabriel Bá presenteiam nos com um personagem real que esta em uma busca constante por si mesmo e seu lugar neste mundo. Brás nos faz refletir o quanto a vida é bela e quanto cada momento singular dela nos molda. Merecidamente a HQ ganhou o prêmio Eisner (tido como o Oscar dos quadrinhos) em 2011 por melhor arco de história. Isso demonstra que o Brasil tem grandes artistas e grandes histórias para serem contadas no universo dos quadrinhos.

Rafael Brienza

Músico e colecionador de HQs e Mangás, adora jogos da Nintendo desde que se conhece por gente. É amante da série The Legend of Zelda e uma porcaria em jogos de tiro em primeira pessoa.
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