Narcosis – terror psicológico no fundo do mar
Narcosis,
desenvolvido pelo estúdio indie Honor Code, Inc, é um jogo de terror psicológico de sobrevivência em primeira pessoa que se passa no fundo do mar. Este foi o primeiro jogo criado pelo grupo francês e a aposta deles foi criar um jogo mais plausível e realista, ou seja, sem zumbis, monstros e coisas do gênero. O desafio então foi criar algo que possa ser encontrado no mundo real onde as coisas assustadoras são a escuridão, o abismo das profundezas do mar, as criaturas que lá habitam e o fato de você estar sozinho no meio de tudo isso lutando desesperadamente para sobreviver e voltar à superfície. É importante enfatizar que a experiência com esse jogo provavelmente seja melhor usando VR, mas nem o PS4 ou o Xbox One possuem essa opção.
A estória
do jogo segue um grupo de 20 mineradores e cientistas que fazem parte do bilionário projeto Oceanova focado em extrair recursos valiosos das profundezas do Oceano Pacífico. Todos são treinados e vivem em uma base de operação a três quilômetros de profundidade muito bem equipada com todos os recursos necessários para que haja conforto. Além disso, eles contam com uma roupa de mergulho de alta tecnologia para caminhar pelo chão do oceano e realizar seus trabalhos. Mas após um maremoto de grandes proporções, o caos se instala no mar destruindo a base de operação e matando imediatamente quase todos. Nosso protagonista, o engenheiro Kip Mattas, precisa desesperadamente de um plano de fuga de volta à superfície e precisará encontrar um meio de transporte (shuttle) que esteja funcionando para que consiga se salvar. Partes de monólogos e trechos de uma entrevista realizada algum tempo após o desastre deixam claro que você foi o único sobrevivente. Ao finalizar o jogo, você poderá ouvir essa entrevista na íntegra, algo muito legal. Aliás, a estória é um dos pontos altos do jogo e foi muito bem escrita e desenvolvida. E durante sua caminhada, você poderá conhecer um pouco mais sobre a tripulação da Oceanova ao encontrar seus corpos e coletar seus IDs e objetos pessoais espalhados pelos cenários.
O jogo
pode ser finalizado em menos de 5 horas e é dividido em capítulos. Seu maior foco é fazer você sentir como seria se realmente estivesse na situação proposta. E consegue, de certa forma. Durante toda campanha, você estará equipado com um cilindro de oxigênio, alguns sinalizadores, uma faca, uma bússola e um traje de mergulho que pesa meia tonelada. Esse traje tem o “carinhoso” apelido de Caixão Ambulante e você sentirá isso na pele. Caminhar com esse traje é algo difícil e testará sua paciência, mas como todos sabemos, caminhar debaixo da água não é umas das tarefas mais fáceis, e os desenvolvedores realmente recriaram esse efeito. O problema é que muitos jogadores podem se desmotivar com essa lentidão e abandonar o jogo antes de se acostumarem e apreciarem os pontos altos que ele tem a oferecer. Mas nem tudo está perdido, pois seu traje possui propulsores que vão ser usados quase que o tempo todo e serão essenciais para as partes do jogo que contêm plataformas e saltos. Só que você precisará usá-los com inteligência, pois eles precisam esfriar antes que possam ser usados uma segunda vez. Com seu traje, você também acompanhará quanto O2 você tem disponível e deverá controlar seu uso. Então, fique de olho para encontrar cilindros de O2 pelos cenários, ou a morte será certa. Já os sinalizadores podem ser usados para marcar trajetos e despistar inimigos, então use os inteligentemente. Você também encontrará alguns puzzles durante a jogatina, então fique de olho no cenário para coletar as pistas necessárias para resolvê-los.
Outro ponto legal do jogo é que muitas vezes seu personagem terá alucinações, trazendo assim um fator interessante para a estória. Na maioria da vezes, isso acontecerá devido a falta de O2 ou em situações de perigo iminente. Saiba também que seu O2 caíra desproporcionalmente quando encontrar os corpos de seus amigos ou sob ataque de inimigos. Falando em inimigos, eles são poucos e na maioria das vezes basta evitá-los para prosseguir. E sabemos que jogos do estilo geralmente utilizam os jump scares para nos assustar, mas esses são poucos e na verdade não assustam muito. Faltou um pouco mais de suspense para que isso acontecesse. Provavelmente com o uso do VR, esses jump scares surtam mais efeito.
A jogabilidade
é um ponto difícil de se falar, pois você precisará sempre se lembrar que está sob condições sub humanas, além de estar vestindo seu traje de meia tonelada. Em alguns momentos, tudo parece estar caminhando bem, mesmo que de forma lenta. Em outros, você se perguntará se vale a pena continuar sua jornada ou simplesmente morrer afogado e ir nadar na piscina de sua casa para relaxar (contanto que você tenha uma – risos), e aí retomar o jogo mais tarde. Isso porque o jogo possui algumas partes onde você terá que realizar saltos de plataformas, algo que sabemos ser difícil em jogos em primeira pessoa, e que ficam ainda mais difíceis quando você não consegue enxergar seus pés ou onde está pousando. Sendo assim, muitas vezes você morrerá, pois a escuridão e essa visibilidade comprometida deixarão seus saltos mais complicados. É claro que com o passar do tempo, você se acostumará com o uso dos propulsores e terá mais facilidade para transpor esses trajetos. Não bastasse isso, há momentos em que você simplesmente ficará preso em alguma parte do cenário por ter dado um salto errado e não conseguirá sair mais de lá, a não ser que você dê o famoso restart e comece determinada parte do seu início. Isso é frustrante, mas felizmente, não é algo constante. E por isso é difícil comentar sobre a jogabilidade, porque se você se entregar ao jogo e se colocar dentro das condições criadas, verá que um movimento errado significa o fim, e se olharmos por esse lado, você provavelmente sentirá a angústia que é morrer preso em meio aos escombros enquanto seu cilindro de ar se esvazia. Pelo menos aqui você poderá dar o restart e tentar mais uma vez.
Os gráficos e cenários
não são os mais belos que você verá em jogo de terror psicológico, mas também não deixam a desejar. Algumas partes se sobressaem, outras nem tanto. Os cenários podem parecer confusos em alguns momentos e muitas vezes você terá a sensação de estar andando em círculos e poderá encontrar dificuldades para chegar ao seu objetivo. Mas de novo, vale ressaltar que a desorientação é algo constante no fundo do mar.
Os efeitos sonoros
são o outro ponto alto do jogo e fazem toda diferença no resultado final. E ficam ainda melhores ao usar um fone de ouvido. Além disso, as vozes usadas no jogo foram muito bem gravadas e os atores têm uma ótima performance. Você poderá curtir o jogo com áudio em inglês ou francês, e com legendas e menu em português, se assim preferir.
Concluindo,
temos aqui um interessante jogo de horror survival que se difere da maioria dos jogos do estilo. Um jogo com uma estória consistente, belos efeitos sonoros e vozes, gráficos um pouco abaixo do esperado e uma jogabilidade que poderá ser amada ou odiada. Ou seja, um jogo que tem tudo para ser apreciado pelos fãs do gênero, mas que pode não ser a praia (se é que me entende) de muitos outros jogadores.
Narcosis
Positivos
- Estória bem escrita e desenvolvida
- Efeitos sonoros e vozes dão um toque especial
- Criatividade dentro do estilo Horror Survival
Negativos
- Gráficos um pouco abaixo do esperado
- Lentidão com o que o jogo se desenrola pode afastar jogadores
- Os saltos de plataforma deixam a desejar
- Jump scares não assustam muito