1979 Revolution, escrito e dirigido por Navid Khonsari, foi desenvolvido pelo estúdio iNK Stories. Poder-se afirmar que se trata de um jogo no estilo documentário baseado em fatos reais e depoimentos de pessoas que vivenciaram a Revolução Iraniana que culminou com o massacre conhecido como Sexta-Feira Negra. Estamos diante de um jogo sobre escolhas morais e suas consequências que se desenrolam através de uma emocionante aventura narrativa.
O jogo, porém, começa alguns dias antes do massacre, e se passa em Tehran. Você joga com o personagem Reza Shirazi, um jovem foto jornalista que volta da Alemanha e encontra seu povo em vias de protesto contra seu rei, o Shah. Aos poucos você vai se envolvendo com o submundo e as pessoas por detrás da revolução enquanto registra todos os momentos históricos para a posterioridade.
O jogo realmente funciona como um filme e dura pouco mais de duas horas, e é dividido em capítulos bem curtos. Esse formato garante a chance de imersão com a estória e funciona muitíssimo bem. O jogo consegue capturar a tensão e todo drama vivido pelo povo Iraniano e você provavelmente jogará do começo ao fim sem parar porque a estória se desenrola de forma rápida e dinâmica, realmente prendendo o jogador, ou telespectador, se preferir. Tendo capítulos curtos, o jogo nunca fica cansativo, e para os caçadores de conquistas ou para aqueles que fazem questão de vivenciar tudo que um jogo tem a oferecer, você poderá acessar todos os capítulos que já foram abertos a qualquer momento e jogá-los novamente. Ou se você se arrepender de alguma escolha que fez, poderá então reescrever sua estória e mudar o destino daqueles que te acercam.
O cast de personagens é outro ponto a ser ressaltado. Os personagens encantam com grandes atuações. Os escritores conseguiram demonstrar as emoções, dramas e o amor que os personagens sentem pela nação e país, e independentemente de suas crenças, partidos políticos e ideais, todos estão em busca do mesmo objetivo e sonho: livrar o país do governo opressor de Shah, em busca de um futuro melhor. O jogo deixa bem claro que todos que participaram dessa revolução sabiam que suas vidas corriam risco, mas não abriram mão de seus ideais e sonhos.
Seu personagem está no meio de tudo isso e tem que decidir como agir e reagir a tudo que está ao seu redor. No melhor estilo dos jogos da TellTale, você muitas vezes terá que tomar decisões rápidas. Essas decisões não mudam o curso da estória, mas elas constroem o seu tipo de caráter. Agora, há decisões morais e essas sim vão impactar diretamente no destino dos personagens com quem você interage. Seu papel dentro do jogo é registrar todos os momentos da revolução e embora relutante no início, você acaba se envolvendo de corpo e alma.
Assim que começa o jogo, não temos muita ideia do que está acontecendo. Logo após o primeiro capítulo, somos transportados para a temida prisão de Evin. Você está sendo interrogado e a partir desse momento a estória começa a ser contada em Flashbacks.
Conforme anda pelos cenários propostos, você se deparará com a cultura iraniana daquela época em sua mais pura forma – você conhecerá e aprenderá sobre os artistas pops, comidas típicas, as diferentes religiões e partidos políticos, livros, revistas, fitas cassetes contendo material real e até filmes (com pessoas reais) que você poderá assistir. Há um momento em que você está na casa de seus pais e você acha os arquivos da família em vídeo cassete. É possível assistir vários momentos de sua infância enquanto seu personagem fala sobre todas essas memórias. Magnífico! Em outros momentos, você tirará fotos específicas e encontrará as mais variadas informações sobre pessoas comuns e o tipo de vida que elas têm. Algo que chama atenção e demonstra todo cuidado tomado pelos desenvolvedores está nas fotos tiradas. Cada uma delas vem com uma informação histórica ou educativa e ao lado da foto que você tirar, terá a foto real em que a do jogo foi baseada. Não há como negar que esse jogo realmente oferece algo pouco visto na indústria dos games.
Mas você não vai somente tirar fotos e tomar decisões. Temos também vários Quick-Events à la TellTale. Alguns são divertidos, mas dispensáveis em sua maioria. Servem para trazer o elemento ação ao jogo.
A jogabilidade é bem simples e funciona sem problemas. Os gráficos seguem o estilo Graphic Novels. Os desenhos deixam um pouco a desejar, no entanto. Assim como alguns detalhes dos cenários. Você verá muitos NPCs duplicados ou triplicados, e às vezes, alguns cenários sem muitos detalhes. Se você não for o tipo de jogador que analisa (ou escolhe) um jogo por seus gráficos, você nem se importará, pois temos aqui outro foco. Ainda assim, poderiam ter tido um cuidado melhor. Em compensação, as cores usadas ficaram muito bonitas e no tom certo. Adicione a isso as músicas, falas dos personagens e os efeitos de background e você realmente se sentirá naquele lugar, naquele momento – parte da história.
Um detalhe a mencionar é a falta de áudio e legendas em Português. As opções que temos são Persa, Russo, Francês, Alemão, Espanhol, e claro, o Inglês.
E quando o jogo terminar, talvez você sinta que algumas coisas ficaram sem explicação e meio que no ar. Talvez um indicador de que teremos um segundo jogo? Seria muito bem vindo, sem dúvidas.
Em suma, temos aqui um jogo baseado em um dos momentos mais importantes da história Iraniana que flui e prende os jogadores até seu desfecho final, um jogo rico em detalhes culturais que fascina aqueles que gostam de aprender, um jogo para os amantes de uma boa estória.
Jogo foi testado na versão de PlayStation 4 em uma cópia cedida pela Digerati
-
-
-
-
-
-
