Hello Neighbor – deixe seus vizinhos em paz
Quem nunca ficou curioso em saber o que um vizinho poderia estar aprontando ou os segredos que ele poderia esconder? Eu, quando criança, sempre tive esse tipo de curiosidade e confesso que já entrei sem ser convidado em casa de vizinhos meus usando minhas habilidades “stealth” e após resolver certos “puzzles” para conseguir acesso ao interior de suas residências (risos). Que fique bem claro que nunca causei mal à nenhum deles e também nunca os roubei ou coisas do tipo. Era por pura curiosidade! Eu era somente uma criança atrás de “aventura e suspense”, e por sorte nunca fui pego ou encontrei algo de errado. E foi isso que me chamou atenção quando descobri que havia um jogo sobre esse tema: Hello Neighbor, jogo desenvolvido pelo estúdio Dynamic Pixels.
Assim que a cena de abertura aparece, você vê um garoto jogando bola, e de repente, ouve gritos estranhos vindo da casa de seu vizinho que mora em frente a sua casa. É claro que sua curiosidade fala mais alto e ele se aproxima da casa e percebe que o vizinho acaba de trancar algo ou alguém em seu porão. No minuto seguinte o jogo começa e no controle desse garoto você então tentará descobrir o segredo que seu vizinho está escondendo a sete chaves.
A estória é no mínimo interessante e propõe o uso de sua imaginação e interpretação para entender o que pode estar acontecendo. Ela é contada sem diálogos ou narrativa, somente com algumas cutscenes e de forma sutil, e é basicamente dividida em dois momentos: quando você é criança e quando você já é um adulto. O jogo é dividido em três atos e todos se passam na casa do vizinho, mas em cada um deles a planta da casa sofre modificações. No terceiro ato, por exemplo, a casa se torna muitas vezes maior do que era no primeiro. E embora o jogo tenha muitos problemas, explorá-la é bem divertido.
Diferentemente da minha época de criança, quando eu entrava nas casas dos meus vizinhos, eles não estavam lá. Aqui ele está o tempo todo presente e incansavelmente na espreita, pronto para te pegar. Ele demonstra ser alguém paranoico que vive para esconder seu segredo e fará de tudo para te manter longe da casa. E aqui está um dos pontos legais do jogo. A inteligência artificial do vizinho se adapta e ele aprende seus padrões. Por exemplo, se você usar muito a porta da frente para entrar na casa, ele provavelmente estará lá na próxima vez que você tentar, e então, você deverá tentar uma forma diferente para driblá-lo. Ou então ele terá instalado armadilhas ou câmeras e tudo ficará mais difícil para você. Toda vez que seu vizinho te pega em flagrante, você recomeça o jogo de sua própria casa (com exceção do ato 2 em que você sempre partirá do porão da casa do vizinho). Sendo assim, você tem que planejar muito bem o que fazer e como fazer. Para ter sucesso em suas investidas, você deverá prestar atenção ao sons ambientes. Quando seu vizinho estiver por perto, a tela e a música demonstrarão que você está em perigo, criando um clima de tensão interessante. Nesse momento, só lhe restar fugir e se esconder.
Assim que sua aventura começa, você sabe que quer entrar na casa e que precisa achar uma chave mostrada na cena de abertura, chave essa que abre a misteriosa porta do porão. Com o tempo descobri que há várias formas de se atingir um objetivo, mas o problema é que não há nenhuma dica de como se fazer isso. De novo, não há diálogos, não há uma narrativa e não há pistas claras. Depois de ficar quase uma hora perdido tentando descobrir como entrar no cômodo onde a chave do primeiro ato estava, acabei recorrendo aos detonados para poder prosseguir com a estória. Isso não é nada agradável e se torna uma constante. Eu tentei aprender e resolver o máximo de puzzles que pude sozinho, mas no fim eu sempre voltava aos detonados. Você usar um detonado de vez em quando, tudo bem, todos já fizemos isso, mas quando você encontra um jogo que possui puzzles nada intuitivos e muitas vezes sem nexo algum, fica bem difícil, e ter que “apelar” para um guia o tempo todo faz com que o jogo perca grande parte de seu charme, além de perder o fator recompensa. E para resolver a maioria dos puzzles, você precisará interagir com alguns dos diversos objetos espalhados pela casa. Muitos desses objetos fundamentais estão escondidos ou misturados com vários outros e fica difícil saber se são ou não essenciais. Seria fácil eliminar essa dúvida se você pudesse carregar vários deles, mas você pode carregar somente quatro itens em seu inventário. O problema é saber quais desses objetos você usará e onde ou como fará para usá-los. Decidi pesquisar se o problema estava comigo por não conseguir entender o padrão dos puzzles propostos pelo jogo e descobri que a grande maioria dos jogadores também ficou perdida. Bom, após assistir aos detonados e entender o que fazer, encontrei outros problemas: a jogabilidade e inúmeros bugs.
A jogabilidade do jogo é complicada e testou minha paciência. Primeiro que a física do jogo quase sempre é falha. Por exemplo, muitas vezes você precisará quebrar vidraças para entrar em algum cômodo. Então você pega um objeto e arremessa contra essa vidraça. E o que acontece? Ela não quebra. Tudo bem, devo ter jogado de forma errada. Aí você tenta mais uma vez por outro ângulo e falha mais uma vez. Então você tenta outro objeto e nada. Aí você pega o primeiro objeto de novo e arremessa só de raiva e a vidraça finalmente quebra (risos). Enquanto você briga para quebrar a maldita vidraça, o temível vizinho aparece e te pega. Legal, né?. Outro exemplo acontece logo no primeiro ato. Descobri que precisava empilhar duas caixas de papelão para poder chegar ao telhado da casa. Tarefa fácil! Achei as duas caixas ao redor da casa e aí a luta começou: punha uma caixa em cima da outra e a primeira caia. Tentava de outra forma, e aí arremessava sem querer a caixa para longe. Aí enquanto estava tentando mais uma vez, o vizinho aparecia e acabava com minha graça. Consegui depois de várias tentativas frustradas. E acredite, achei que eu estava fazendo algo errado, mas não. Tudo isso aconteceu porque a física do jogo não responde. Mais tarde, no terceiro ato, depois de descobrir a sequência louca e sem sentido de puzzles que tinha que resolver, fiquei quase uma hora e meia (sem brincadeira) lutando contra o controle, bugs e cenários para conseguir realizar todas as tarefas necessárias para abrir uma determinada porta. Falhei por várias vezes. Falhei uma vez por ter ficado preso no cenário. Falhei uma segunda vez por ter (sem querer) jogado fora um objeto de meu inventário e percebido que ele havia sumido. Mas como você perdeu um objeto essencial? Assim, precisava pegar uma cadeira para resolver parte de um puzzle, e tive que dispensar um dos objetos essenciais para fazer isso. Então, cuidadosamente, tentei por esse objeto no chão para pegá-lo logo em seguida, morrendo de medo para não arremessá-lo para longe e perde-lo. Quando o fiz, o objeto ficou preso no cenário e não consegui recuperá-lo. Também perdi objetos porque o comando de controle respondeu de forma errada. Tive que reiniciar o terceiro ato várias vezes e refazer tudo de novo por causa de bugs e da física do jogo. Falhei mais vezes ainda. Em alguns momentos o controle ficou louco. Do nada, o analógico de movimento inverteu todas as direções de comando: para frente ia para esquerda, para esquerda ia para baixo, etc… Nem sei mais. Já deu para perceber a loucura né? Ah, teve momentos que precisei pausar o jogo e quando voltei, estava tudo travado. Resultado: tive que reiniciá-lo mais algumas vezes por causa disso. Sabe o que senti? Que para vencer esse jogo, além de realizar os objetivos e resolver os puzzles, tive também que vencer os defeitos do próprio jogo. Era para ser um jogo de terror e suspense, mas não senti medo de ser pego pelo vizinho, senti medo de falhar diante desses defeitos e ter que refazer tudo de novo. Ainda assim tive paciência para continuar. Muita paciência mesmo! É inadmissível um jogo chegar em sua versão final dessa forma.
Mesmo passando por momentos tão ruins com o jogo, eu ainda tenho um carinho especial por ele. Toda essa paciência que tive é porque sei que é um jogo com uma estória intrigante, que esconde algo profundo e que despertou muita curiosidade em mim. Além disso, o jogo é bonito e seus gráficos no estilo de filmes da Pixar me agradaram muito, e por muitas vezes me peguei admirando os cenários com suas paletas incríveis de cores. Também encontrei vários segredos interessantes e instigantes, a exploração da casa e seus segredos me cativaram, mas no fim, minha experiência com o jogo foi muito mais de ódio do que amor, pois Hello Neighbor tem muitos mais problemas do que diversão a oferecer.