Analisado no PlayStation 4
Histórias de zumbi e mundos pós apocalípticos já estão muito batidas, praticamente esgotaram tudo o que se podia tirar dessa fonte. Então podemos dizer que um game do gênero, será sempre muito complicado para qualquer desenvolvedora. Agradar o público gamer já não é tarefa fácil, ainda mais quando se trata de um enredo que está todo mundo acostumado. A Bend Studio preferiu não arriscar em um contexto novo, e focou em trazer uma fórmula bem feita, de aspectos já apresentados em outros games de zumbi. Ela simplesmente pegou tudo aquilo que foi feito de forma segregada e colocou num jogo só. Gamers mais exigentes podem torcer o nariz e dizer que não há inovação, mas eu discordo, pois Days Gone traz elementos clássicos e recentes com muita notoriedade.
Logo na introdução do jogo, temos uma clara certeza da influência de The Last of Us. No ínicio temos um vislumbre do mundo do game, com uma cena específica de ação, onde o caos tomou conta da cidade toda, quando um corte dramático é feito, mostrando Deacon se despedindo de sua esposa, enquanto a mesma embarca em um helicóptero pra fugir da confusão e cuidar de um ferimento. Diferentemente de The Last Of Us, Days Gone não consegue um envolvimento sentimental tão profundo, para concluir o impacto ao qual tenta atingir.
Na sequência tem um salto temporal de 2 anos e nos deparamos com as estradas de Oregon, em uma época onde sobreviver fala mais alto que qualquer código moral. Deacon e seu melhor amigo, Boozer continuam como motoqueiros, sobrevivendo por um mundo tomado por FREAKERS, onde poucos humanos sobraram, e os que estão por aí, não são lá coisa que preste. O jogo enfatiza bem a relação de amizade entre os personagens, além de estabelecer e delinear os tutoriais, deixando a jogabilidade extremamente fluida.
Mas depois de uma introdução tão densa, somos jogados num mundo aberto e remotamente vazio, e é quando a história perde o ritmo de forma muito abrupta. Durante um período significativamente longo, somos obrigados a fazer missões secundárias fracas e sem envolvimento claro com a trama do jogo. Fiquei meio confuso e não sabia ao certo o que estava fazendo no game. No geral, o jogo demora pra dar dicas efetivas sobre a direção que devemos tomar.
Nossa, Thiago, tá tão ruim assim? – Não!
Após esses momentos lentos, o jogo engrena. É como aprender a pilotar uma moto, vai soltando a embreagem devagar, e voi-là! As conexões vão se desenrolando, criando relacionamentos que começam um processo de evolução muito interessante, criando laços com o player e com toda a atmosfera apresentada. Juntando tudo isso, começamos a encontrar pistas do que de fato aconteceu e continua acontecendo em Days Gone, o que nos projeta diretamente a uma experiência profunda e emotiva. Então, se logo de cara, você achar o jogo muito raso, aguenta firme e dá uma chancezinha, o jogo melhora gradativamente!
A jogabilidade é muito estável, executada brilhantemente, de uma forma muito sólida. A movimentação do protagonista é muito dinâmica, se ajustando a abordagens mais furtivas e mais explosivas. Toda essa variedade de abordagens é de uma relevância crucial no jogo, uma vez que enfrentamos zumbis rápidos e ligeiramente inteligentes, humanos armados e animais selvagens. Independente de você gostar de jogar como o Rico de Just Cause, ou como o Agente 47 de Hitman, uma hora ou outra, sua preferência será posta de lado, para que dê espaço a alguma eventualidade na narrativa da aventura, seja fugindo de uma horda insana de zumbis, ou invadindo um acampamento durante a madrugada.
O suporte para essa gama de possibilidades no gameplay é muito amplo e conta com inúmeros itens, desde a famigerada faquinha, tacos de baseball, bombas de fumaça, coquetel molotov, pistolas, snipers, machetes e machados. E cada item pode ser combinado e melhorado, até regenerado em alguns momentos. Mas use todos esses itens com sabedoria, e apenas se for necessário. Days Gone não facilita, ele realmente retrata fielmente o fim do mundo, deixando tudo mais difícil de encontrar.
Preciso dizer que a inteligência artificial dos inimigos é um tanto quanto confusa. Às vezes são extremamente inteligentes, eles deduzem onde você se encontra escondido, de uma forma meio bizarra, até para um jogo, mas vez ou outra você vai se deparar com um inimigo extremamente burro, que praticamente se joga pra morte. Tentaram balancear a dificuldade, mas falharam. Em alguns momentos, encontrei zumbis mais espertos que alguns humanos, o que não está assim tão longe da realidade (risos).
Mas em contrapartida, o jogo possui um sistema para criação de itens muito bem elaborado, que nos instiga a realizar missões secundárias, além de contar com uma árvore de habilidades bem equilibrada. Toda a interface é muito inteligente, nos fazendo utilizar até mesmo o touch do dualshock. Eu particularmente adorei!
Num jogo de mundo aberto, não poderia faltar um meio de transporte rápido e adequado para nos apoiar em grandes distâncias. E em Days Gone não é diferente, temos uma moto bem beberrona. A desgraçada consome tanta gasolina, que a cada piscar de olhos, nos encontramos empurrando ela, estrada adentro. Além de abastecer, temos que repará-la há quase todo instante, uma vez que o cenário tá ali pra causar muitos danos ao motor e à estrutura. Uma dica: Cuide bem da moto, porque ela pode e te deixará na mão, no pior momento possível e da forma que mais cause vergonha.
Brincadeiras à parte, a mecânica da moto é boa, mas é necessário nos atentarmos às suas necessidade de gasolina e do estado físico dela, para que sua durabilidade seja longa, e ela continue ágil e rápida, para fugir, ou mesmo matar os zumbis. Os pontos fracos são: A necessidade quase que constante de abastecer, mesmo quando usamos a viagem rápida, e claro, a falta de interatividade da moto com as missões. Ela serve basicamente para fugir da treta.
Eu, particularmente não sou de reparar em pequenas quedas de performance nos jogos atuais, mas Days Gone se mostrou muito propenso nesse aspecto, uma vez que seus cenários levam segundos a mais pra carregar, o que afeta absurdamente na qualidade do gráfico. Cheguei a me deparar com um bug nojento. Fui colher uma florzinha e do nada me encontrei caindo de uma altura pavorosa, que deu aquele gelo na boca do estômago, o mesmo gelo que a gente sente quando o paraquedas não abre, depois de saltarmos de um jato em GTA V.
As telas de Loading são meio irritantes também. Demoradas demais, credo! O que me faz pensar que Days Gone é um jogo que talvez se adequasse melhor na próxima geração de consoles. Quem sabe não haja um lançamento totalmente dedicado ao PS5. Mas não se frustre com essas informações, até porque os problemas não são frequentes, logo, não afeta a experiência do jogo com um todo. É apenas um ponto negativo.
A Bend Studio não estava no mercado de consoles de mesa a algum tempo já, mas isso não tira todo o brilho que ela possui. Ela é responsável pela saga clássica Syphon Filter (meu Deus, eu amo!), o que definitivamente é um sinal de que com o incentivo certo, a Bend pode trazer grandes títulos no futuro.
Days Gone é um jogo que passa longe da perfeição, mas é um game de zumbi extremamente completo, com um mapa rico em detalhes, com personagens muito bem desenvolvidos, jogabilidade fluida e funcional, a trilha sonora é muito tocante e se encaixa com todos os momentos. Apesar de alguns momentos desnecessários, a história cativa e envolve o jogador, o que torna o jogo uma das aquisições obrigatórias dos Sonystas. Eu joguei num PS4 padrão e encontrei alguns problemas de performance, e fiquei esperando aquele “algo a mais” da capacidade do jogo, o que infelizmente a Bend não conseguiu entregar nesta geração. Mas num contexto geral, eles mandaram muito bem e entregaram um jogo incrível!
O jogo é totalmente em português, trazendo legendas e dublagens. Quanto ao áudio dublado, os atores envolvidos estão de parabéns, conseguiram dar o tom adequado para as cenas de ação, tristeza ou ironia. Se você gosta de uma narrativa densa, com muito sangue e violência gratuita, Days Gone é o jogo certo pra você!