A Netflix cancelou recentemente The OA, série Sci-fi com duas temporadas disponíveis.
O anúncio foi feito através do Vice-Presidente de conteúdo original da plataforma, Cindy Holland através do site Variety afirmou que gostaria de voltar a trabalhar com os criadores do seriado Brit Marling e Zal Batmanglij. Confira abaixo o comunicado:
“Estamos incrivelmente orgulhosos dos 16 hipnotizantes capítulos de The OA, e agradecemos a Brit Marling e Zal Batmanglij por compartilhar sua visão audaciosa e realizá-la através de sua incrível arte. Queremos trabalhar com eles novamente no futuro, nessa e talvez em muitas outras dimensões.”
A Atriz Brit Marling, conhecida por ser uma das criadoras da série e por dar vida a protagonista Prairie Johnson, lamentou o cancelamento do programa em seu Instagram:
“Alguns de vocês já devem saber, ou alguns de vocês descobrirão por essa carta que a Netflix não vai continuar The OA.
Zal [Batmanglij] e eu estamos profundamente tristes por não finalizar essa história. A primeira vez que ouvi essa notícia chorei muito. Assim como um dos nossos executivos na Netflix que esteve conosco desde os primeiros dias desde que estávamos esboçando o porão de Hap no chão de nosso escritório no Queens. Foi uma jornada intensa para todos que trabalharam e se importaram com essa história.
Alguém me perguntou em um painel “por que você é tão obcecada com sci-fi?”. Não tinha percebido que estava “obcecada” ou que a maioria das narrativas que escrevi até então estavam dentro do gênero de ficção especulativa. Fui pega de guarda baixa. A questão veio como uma acusação de alguém que não gosta do gênero, então acho que respondi algo como “uh… é divertido construir um mundo?”. Mas pensei muito sobre ess questão desde então e acho que uma resposta mais próxima da verdade é:
É difícil ser inspirada a escrever histórias sobre o mundo “real” quando você nunca se sentiu livre nele. Como uma mulher escrevendo personagens para mim e outras mulheres, senti constantemente como se as estradas já pavimentadas para trabalhar em questão de narrativa são limitadas. Talvez um dia serei evoluída como roteirista para pavimentar minhas próprias estradas na “realidade” (Elena Ferrante!), mas até o momento me senti limitada. Posso escrever sobre mulheres “no topo”, mas estaria perpetuando as mesmas hierarquias que nos oprimem (e apenas pedindo para mudar a opressão para outra pessoa). Posso escrever sobre a grande maioria das mulheres na inferioridade econômica, mas o poder de mover imagens e atores carismáticos constantemente glamouriza ou perpetua os vários estereótipos que o filme espera criticar. Posso escrever sobre mulheres auto-depreciativas que expõem as abundantes desigualdades de gênero para uma boa risada, mas aí, como Hannah Gadsby disse em sua brilhante história Nanette, eu estou em algumas formas negociando minha humilhação por meu pagamento e a chance de ser incluída.
Ficção científica limpou esse mundo como uma Tela Mágica. Ficção Científica disse ‘imagine qualquer coisa em seu lugar’. E assim fizemos. Nós imaginamos que coletivo é mais forte que individual. Imaginamos que não há heróis. Imaginamos que as árvores de San Francisco e um polvo gigante do Pacífico tinham vozes que poderíamos entender e escutar. Imaginamos humanos como uma espécie entre outras e não necessariamente a mais sábia ou mais evoluída. Nós imaginamos movimentos que juntaram pessoas improváveis no mesmo cômodo, colocando-as para se mover colocando-as a arriscar se tornar vulneráveis pela chance de pisar em outro mundo.
É isso o que The OA foi para mim, Zal e todos os outros artistas que se juntaram a nós. A chance de pisar em outro mundo e nos sentirmos livres nele. Nós sentimos profunda gratidão pela Netflix e pelas pessoas com quem trabalhamos para tornar possíveis as Partes I e II. Nós sentimos orgulho dessas descompromissadas 16 horas. Em grande parte, milhões e milhões de vocês nos deram esse senso de orgulho ao assistir – com comentários que deixaram, artes que fizeram, teorias do Reddit que semearam, movimentos que performaram em praças públicas, quartos, boates e quintais pelo mundo. Embora não possamos terminar essa história, prometo que contaremos outras. Não descobri nenhum outro mecanismo eficaz para lidar com estar vivo no antropoceno. E talvez, de algumas formas, não é ok não concluir esses personagens. Steve Winchell ficará suspenso em nossas imaginações, evoluindo infinitamente, correndo eternamente atrás e finalmente alcançando a ambulância e OA.
Com amor, Brit.”