Analisado no PC
Cyberpunk 2077 é um jogo de ação e aventura com elementos de RPG, desenvolvido e distribuído pela CD Projekt Red e lançado em 10/12/2020, com versões para PC, PS4, Stadia e Xbox One, tanto o PS5 quanto os consoles Xbox Series X | S rodam as versões de seus antecessores por retro compatibilidade.
Anunciado em 2012, com um trailer teaser em 2013 e pré-produção iniciada em 2016, Cyberpunk 2077 era o jogo mais aguardado do ano. Com anúncios e gameplays revelados em 2018 e 2019, 2077 teve sua data de lançamento prevista para 16 de abril, esta que foi adiada para 17 de setembro, que depois teve o prazo estendido para 19 de novembro, para só então termos a confirmação e o lançamento em 10 de dezembro. Olha, depois de todos esses adiamentos eu acabei perdendo boa parte da confiança e infelizmente este é um dos piores lançamentos não só do ano, mas de toda essa geração. Cyberpunk não está pronto e definitivamente começou com o “pé esquerdo”.
Sem Spoilers, antes do lançamento, Cyberpunk 2077 teve um grande trabalho de marketing, com trailers, gameplays e até a confirmação de Keanu Reeves fazendo o papel de um dos personagens dessa trama. Infelizmente o que foi entregue é muito inferior ao que foi prometido e apresentado, vamos começar pela história e personagens.
Vendido como um RPG, Cyberpunk tem elementos de RPG, mas não é um RPG puro. O jogador não desenvolve a história e sim, uma história é contada onde o jogador é um mero coadjuvante com decisões bastante limitadas, mas vou explicar melhor.
O jogo conta a história do nosso personagem V, um mercenário que durante um trabalho acaba com um chip que carrega a consciência de Johnny Silverhand (Keanu Reeves) preso em sua mente. Como disse sem spoilers, a história se divide entre missões principais e missões secundárias, não é necessário fazer nenhuma missão secundária para se terminar o jogo, a única função dessas missões é te possibilitar o acesso ao romance com alguns NPCS, caso opte por fazê-las você terá acesso a mais opções na última missão do jogo, resultando em múltiplos finais e é aqui que entra a questão das decisões.
Infelizmente a maior parte dos diálogos e decisões não têm impacto algum na história, tudo vai no automático. Não existe controle nem mesmo nas missões secundárias não ligadas à história, existem muitos NPCS que te dão trabalhos, porém mesmo que você seja rude e trate o cliente da pior forma possível, eles sempre te ligam ou entram em contato novamente.
No final das contas, mesmo sendo bastante linear, a história não é ruim, porém ela demora bastante para engrenar, no meu caso eu só senti que a trama começou a ficar interessante depois de umas 5 ou 6 horas de jogo. Na minha opinião grande parte desse problema é causado pela falta de opções de customização e de como o nosso personagem é apresentado e desenvolvido.
A CD Projekt Red fez um marketing gigante mostrando as customizações de personagem e os lifepaths que facilitariam ou dificultariam o desenvolver de cada missão, entretanto o jogo foi lançado com um sistema de customização básico e os lifepaths que nada importam.
No começo do jogo é necessário criar o nosso personagem “V”, para isso é possível escolher o sexo, alguns modelos de face, cor da pele, tipo e cor de cabelo e pelos faciais, adereços e até as genitálias. Parece interessante, só que não existe nenhuma opção para se mudar a altura ou porte físico do personagem, as faces e adereços são extremamente limitados e você acaba tendo de escolher um modelo e ficar fiel a ele pois, não existe customização do personagem no decorrer do jogo, a única modificação possível é a troca de roupas.
Antes de chegar na customização de personagem e atributos é necessário escolher o lifepath, que nada mais é do que um background para o personagem. Nomad, Street Kid ou Corpo, a CD Project fez livestreams, mostrando cada um desses backgrounds, segundo as apresentações esses três caminhos distintos dariam opções únicas de interações e decisões, facilitando ou não o progresso do jogador, em teoria isso é interessante, contudo na prática foi entregue algo totalmente sem importância. Os lifepaths são totalmente diferentes do que foi anunciado, eles não interferem em nada nas decisões e são inúteis, independente do escolhido, após a missão introdutória todos levam ao mesmo caminho na história, um deles não tem nem missão, são apenas alguns diálogos e minutos depois estamos na história principal.
Não existem vantagens entre eles, como disse são inúteis, as únicas diferenças são alguns diálogos diferentes em algumas missões, estes que não alteram o resultado ou decisões e algumas missões secundárias exclusivas de cada caminho. Infelizmente o início é um pouco desanimador, as opções de personagens são até OK, porém os lifepaths deveriam ter sido melhor desenvolvidos e explorados.
Se o jogo começa com um ritmo acelerado, pelo menos nós somos apresentados a Night City bem cedo e olha essa é sem dúvidas uma das, se não a melhor cidade feita para um jogo open world. Night City é incrível e cheia de detalhes, das fachadas dos prédios, letreiros, becos e avenidas, tudo foi muito bem pensado com cada bairro possuindo um tipo de cultura diferente que reflete diretamente na arquitetura das construções. Se levarmos em conta a área construída e seus arredores, Night City é uma cidade de tamanho médio, contudo dobre ou triplique este tamanho, pois temos exploração vertical com várias construções de 2 ou mais andares que podem ser acessados.
Para ficar ainda mais interessante, a cidade e seus arredores estão recheados de easter eggs. Sem Spoilers, é possível encontrar referências a filmes clássicos, principalmente os de sci-fi dos anos 80, músicas, super-heróis, jogos, animes, figuras da indústria e até influenciadores digitais.
Graficamente Cybepunk é lindo, este é um dos poucos jogos que receberam um upgrade gráfico depois de serem anunciados. Se você comparar a versão de lançamento com os trailers e gameplays divulgados em 2018 e 2019 a diferença é nítida, as texturas estão muito melhores e a iluminação então nem se compara. Infelizmente estas melhorias impactam diretamente na performance, se você tiver um PC de entrada ou intermediário, não espere por gráficos lindos e 60 frames. Jogar no alto ou ultra e manter os 60 frames aqui é coisa de gente grande, uma Vega 56 ou uma GTX 1080, conseguem levar o jogo no alto, mantendo os 60 frames a 1080p, qualquer resolução acima desta irá exigir um maior poder de fogo.
Boi na sombra ou dedo no ** e gritaria, Cybepunk 2077 tem uma das melhores dublagens já feitas para jogos, entretanto temos alguns excessos e inconsistências. A localização em Português Brasileiro ficou muito bem-feita, os diálogos contêm várias gírias e expressões que só podem ser encontradas em nosso Português, entretanto eu senti um excesso de palavrões durante as primeiras horas. Várias frases possuem palavrões demais e acabam tirando um pouco o contexto do texto original, não é nada grave, mas em certas situações esses excessos acabam com a imersão. Outro ponto a ser notado é que algumas vozes não combinam com os personagens, mas novamente é possível deixar essas inconsistências de lado e aproveitar o jogo.
Agora o que não dá para deixar de lado é que Reinaldo Buzzoni não é o dublador de Silverhand (Keanu Reeves), quem fica a cargo dessa voz é Duda Ribeiro. A dublagem de Silverhand não é ruim, contudo eu simplesmente não consegui ver Silverhand (Keanu Reeves) sem a tradicional voz de Buzzoni, por essa razão e pelo excesso de palavrões, eu preferi jogar com o áudio em Inglês onde temos as vozes originais dos atores e um diálogo mais redondo.
Com menos de 10 dias de seu lançamento Cyberpunk 2077 virou meme, o jogo está infestado de bugs e inconsistências, fica claro que o projeto não está pronto e mesmo depois de vários adiamentos ainda falta muita coisa para completar essa experiência.
A CD Project agiu rápido e dia 11 soltou o Hotfix 1.04, uma atualização que corrigiu vários bugs que impediam o progresso na história. O jogo continua incompleto cheio de bugs visuais e alguns que incomodam, pelo menos no PC a experiência é jogável, mas eu tive de conviver com alguns problemas para terminar essa história. Ontem, dia 18/12 foi lançado o Hotfix 1.05 para os consoles, mas a versão de PC leva mais alguns dias.
Sem mais delongas, com exceção dos bugs gráficos e animações, os principais problemas que encontrei estão relacionados aos NPCs e a itens de missões. Foi comum eu chegar no local da missão e não encontrar ninguém ali, o jeito era recarregar o save game, eu voltava os NPCS estavam ali mas não conversavam, não existia interação, carregar save game novamente, já deu para entender né. Foram inúmeras ocorrências com NPCs que não interagiam ou não apareciam nos lugares, itens que não possuem interação ou que aparecem dentro das paredes ou chão, mas o pior de todos eram os veículos aparecerem “capotados” e eu ter de começar a missão novamente do zero.
Aliados aos bugs, a interface do jogo, a física e a AI são horríveis. A interface do jogo é carregada demais, o mini mapa tem um zoom muito grande e não pode ser customizado, você tem que conviver com menus sem tradução aparecendo na tela aleatoriamente e legendas que também podem bugar e ficar presas na tela.
A física do jogo é muito estranha, motocicletas parecem tratores, carros são difíceis de dirigir, é possível destruir postes, barreiras, como peças de lego contudo, uma simples pedrinha age como uma parede de concreto. Você pode descer dos veículos a 200 KM/H que nada acontece, ao mesmo tempo que uma simples encostada pode fazer os veículos saírem voando.
Em seu atual estado Cyberpunk 2077 possui uma das piores AIs que eu já tive de conviver em um jogo. A inteligência artificial está péssima, inimigos não entram em cobertura, eles esquecem que estão em combate, eu perdi a conta de quantas vezes eu vi um inimigo simplesmente desistir de lutar e ficar parado no meio do combate. Agora o mais cômico é o sistema de polícia, quando você comete um crime os policiais simplesmente vão aparecer do nada atrás do jogador e isso pode acontecer em qualquer lugar, seja em uma sala fechada ou no alto de um prédio, os policiais aparecem como um teletransporte de Star Trek e de novo a “AI melhorando a imersão”, basta virar a esquina para os oficiais esquecerem que você cometeu um crime.
Se no PC o jogo tem problemas, nos consoles está praticamente impossível de se jogar. As versões para os consoles da nova geração não estão prontas, quem tem PS5 ou Xbox Series está limitado as versões para PS4 e One, apesar de não estar otimizado o jogo consegue rodar com certa folga nos novos consoles, o problema está na velha geração. Estamos falando de hardware lançado em 2013, as versões para PS4 e Xbox One estão cheias de problemas, os modelos Pro e X ainda conseguem rodar o jogo suando frio, entretanto as versões mais simples dos consoles não conseguem manter frames constantes e nem carregar texturas. O Xbox One sofre com quedas e frames baixos, é comum jogar com menos de 15 frames por segundo, fazendo com que a experiência fique horrível. O PS4 consegue segurar alguns frames amais, porem sofre com texturas que demoram segundos para renderizar, parece até que você está jogando um jogo de PS1.
Para se ter uma ideia de quão ruim o jogo está nos consoles mais antigos, a CD Projekt em conjunto com a Sony e a Microsoft, estão prometendo reembolso para quem comprou o jogo em mídia digital e está desgostoso com a experiência. Inclusive enquanto escrevia esta analise tivemos a notícia que a Sony estará retirando Cyberpunk 2077 de sua loja digital.
Eu estava esperando há anos por Cyberpunk 2077 e a sensação após joga-lo é de um grande potencial desperdiçado, o famoso “passo maior do que a perna”. Infelizmente no estado atual, a versão lançada parece mais um “Beta” do que um jogo completo, são inúmeros bugs e problemas, tudo isso porque decidiram lançar o jogo antes da hora para aproveitar as vendas do final do ano. Foi muito marketing para pouco jogo, eu recomendo este título apenas para quem realmente queira joga-lo e somente se for jogar no PC, se for jogar no console é melhor esperar por uma versão melhorada.
Infelizmente é isso Cyberpunk 2077 tem potencial, mas atualmente o jogo contem poucos dos elementos que foram tanto falados em streams e entrevistas com a equipe de marketing, além de estar infestado de bugs. A CD Projekt Red pode consertar tudo com atualizações, agora para melhorar a história somente com as futuras DLCs, ou quem sabe eles não liberem o suporte a mods.