Voyage – Uma viagem relaxante e bastante sensorial | Análise

O contexto do jogo está relacionado à jornada dos personagens de volta para casa, por isso eles passam por tantas áreas diferentes

Analisado no Nintendo Switch


Desenvolvido pela Venturous e publicado pela RataLaika Games, Voyage chegou ao Nintendo Switch no dia 10 de agosto e é um jogo descrito como uma aventura cinematográfica:  seus aspectos visuais são um deleite para os olhos e a aventura a ser vivida é especialmente desenvolvida para agradar a um público amplo. A impressão geral é que tal como o famoso clássico da literatura “O Cortiço”, o protagonista é o cenário e não os personagens que efetivamente participam da aventura. É como se tudo o que aparece no caminho somente tivesse a função de abrilhantar ainda mais o majestoso mundo de Voyage.

De forma geral o jogo se baseia em ir caminhando, descobrindo mais e mais do cenário, interagindo com os elementos desse mundo e resolvendo puzzles de modo a avançar para uma nova área. Essa progressão, vale a pena citar, é sempre bastante lenta e harmônica: a palavra “pressa” não existe em Voyage. Os fãs de jogos de plataformas podem estranhar e se entediarem um pouco em alguns momentos de evolução demasiadamente lenta do jogo. A surpresa é que, ao seguir em frente e se acostumar à experiência proporcionada aqui, o jogador vê que esse ritmo é absolutamente necessário para criar essa atmosfera única e relaxante. Após passar poucas áreas é fácil se pegar observando minunciosamente cada mínimo detalhe do que aparece na tela da TV: é como se estivéssemos experimentando uma nova sobremesa e estivéssemos tentando descobrir só pelo paladar tudo o que está contido na receita.

O contexto do jogo está relacionado à jornada dos personagens de volta para casa, por isso eles passam por tantas áreas diferentes, e acabam tendo que resolver desafios para seguir em frente. Assim que você pressiona o botão para sair da tela de start, o primeiro cenário com um mini puzzle aparece. Admito ter ficado muito tempo empacado nesse pedaço: o jogo não tem um tutorial, e apesar de no final das contas os controles serem bem simples, não há muito espaço para experimentação nesse início.

Isso me lembrou de algo que li uma vez: “a primeira fase de qualquer jogo é como uma vitrine que precisa mostrar de forma bem ampla a experiência que você terá, a fim de te prender e te fazer passar o maior tempo possível imerso”. Infelizmente isso não é o que acontece em Voyage. Inserido em uma cena sem contexto, com controles incialmente confusos e com poucas formas de se situar, a primeira impressão de Voyage não é agradável. Você não sabe com o que interagir, nem de que forma interagir. As animações para cada um dos botões são bastante discretas, o que te deixa ainda mais inseguro com o que é possível ser feito. Assim, a impressão é que o inicio do jogo isso foi realmente mal pensado. Isso fica evidente no primeiro puzzle, que envolve arrastar objetos que você não sabe que precisa arrastar e a única forma de descobrir isso é apertando o botão de interação com o cenário (que até então você não sabe pra que serve) e arrastar as pedras para o local certo. Lembrando que para isso é necessário que você aperte o botão certo, no lugar certo e realize uma tarefa que você não sabe que existe. Então realmente fica a ideia que esse início foi um pouco desajeitado, pois mesmo com poucas ferramentas (bem simples e autoexplicativas), o jogo te confronta logo de cara com uma situação desproporcional para o conhecimento da jogabilidade que você possui até então.

O lado bom é que passando essa primeira “fase”, a sua experiência tem um salto exponencial e então tudo se transforma. Os puzzles passam a ser intuitivos e você consegue finalmente entender o que foi proposto pelos desenvolvedores. A música intimista e absolutamente imersiva te deixa muitíssimo relaxado, enquanto os cenários preciosos deixam seus olhos atentos olhando maravilhados para todos os detalhes dessa obra de arte interativa. Os puzzles, que agora você acha bastante simples, te fazem de alguma forma se sentir “pertencido” no mundo de Voyage.

A mecânica principal do jogo consiste em superar obstáculos normalmente físicos (escalar pedras altas e arrastar objetos pesados) junto ao seu parceiro – que também é controlado por você no caso de estar jogando sozinho(a).  Os personagens controláveis possuem exatamente a mesma jogabilidade, então a escolha por algum deles acaba sendo meramente estética.  Os controles apresentam poucas possibilidades, sendo um botão para trocar o personagem, um para interagir com o cenário, um para a mecânica de “dicas” e outro para chamar o outro personagem para perto de você. As dicas dadas pelo jogo possuem uma mecânica interessante mas nem sempre eficiente: ao pressionar o botão de ajuda, uma luz brilhará próximo do elemento de cenário com o qual você precisa interagir e um som suave tocará. Caso não seja necessário fazer nada nas proximidades, a luz não aparecerá e o som também não será tocado. O problema, principalmente no início do jogo, é que apesar de a luz aparecer no lugar certo, você não sabe quais as possibilidades (arrastar objetos, arrancar os musgos/vinhas, etc.) Por isso, as dicas acabam sendo mais úteis quando você já está habituado ao mecanismo do jogo bem como seus desafios. Ironicamente, nesse estágio é quando menos precisamos das dicas. Também vale citar que para subir em pedras, ajudar seu companheiro a alcançar lugares mais altos, tocar em painéis ou arrastar objetos, somente é necessário que se pressione um mesmo botão. Assim, fica claro que o objetivo principal não é resolver os enigmas em si, mas sim estar em um contato maior com o cenário através desses pequenos desafios.

Sem dúvidas um ponto alto de Voyage é que o conjunto de experiências proporcionadas acaba sendo absolutamente delicioso, além de também oferecer um ambiente bastante seguro para qualquer membro da família, já que não possui violência, não é possível “morrer” no jogo e a ausência de textos facilita a introdução dos menores que ainda não sabem ler, junto ao fato de, por razões óbvias, não serem necessárias traduções. Assim, apesar da pisada de bola no primeiro cenário, é fácil ver que houve uma preocupação dos desenvolvedores de incluir todos os jogadores possíveis nessa viagem distópica.

Apesar de ser relaxante jogar no modo portátil com a música bem intimista num fone de ouvido, é no modo acoplado à dock que a experiência acontece em todo seu primor: as cores explodem à sua vista e os detalhes ficam muito mais visíveis, como se estivessem apenas esperando para ser observados. Além disso, algumas áreas têm a jogabilidade afetada no modo portátil para aqueles que não jogam com o nível de luminosidade do médio pra cima: áreas como cavernas tem elementos interativos que ficam pouco visíveis ou sem nenhum destaque nesse modo. Assim, é difícil saber onde tocar ou qual objeto arrastar quando eles estão parecendo ser apenas um pano de fundo. Por isso, é aconselhado aumentar um pouco mais a luminosidade do seu Nintendo Switch ao jogar Voyage, pelo menos até estar bem acostumado com as possibilidades do jogo.

Custando R$ 82,49 e com desconto de lançamento de 20% (levando ao preço de R$ 65,92 no Nintendo Switch), o preço é um pouco mais do que eu pagaria por um jogo “relaxante”. Sem dúvidas é um jogo lindo, original, com uma proposta sólida e, a partir de um ponto, muito bem realizada. No entanto, algumas limitações (como a falta de um tutorial ou primeira fase mais explicativa e ausência de texto até nas opções do jogo) fazem com que a experiência tenha alguns pontos frustrantes. O balanço, apesar de tudo, é bastante positivo, sendo necessário apenas ultrapassar a barreira inicial para aproveitar tudo o que Voyage tem de melhor para oferecer!

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