Analisado no PC
Arcade Paradise é um jogo de gerenciamento e simulação de lavanderia e loja de arcades, desenvolvido pela Nosebleed Interactive e publicado pela Wired Production, foi lançado em 11 de Agosto de 2022 e está disponível para PC, PlayStation 5, PS4, Xbox Series X | S, Xbox One e Nintendo Switch.
A premissa de Arcade Paradise num primeiro momento me deixou um pouco confuso mas ao mesmo tempo intrigado, o jogo começa com uma bela apresentação em desenho animado que remete ao famoso clipe da banda a-ha, numa mistura com vinhetas da MTV, o personagem desse clipe de apresentação é Ashley Goldman, um jovem rebelde do início dos anos de 1990 que acabou de abandonar a faculdade e é “convocado” pelo seu pai a trabalhar numa lavanderia esquecida que é de propriedade da família. Até aí nada de muito excitante, mas chegando lá nos deparamos com uma pequena salinha no fundo da loja com algumas poucas máquinas de Arcades, é nesse cenário que Ash nota que as máquinas ali presentes podem ser uma boa fonte de renda enquanto os clientes esperam que o serviço de lavagem seja completo.
No controle de Ashley temos total liberdade para fazer o serviço na King Wash, e a forma como isso deve ser feito será bem explicado. Arcade Paradise oferece uma jogabilidade amigável ao jogador, ele traz elementos leves de simulação com um gerenciamento bastante fácil e simples, aqui entre o processo de lavagem e secagem de cada cesta de roupas outras tarefas precisam ser feitas, como coletar e descartar o lixo, remover gomas de mascar que foram coladas em locais inconvenientes, desentupir o vaso sanitário e guardar o dinheiro no cofre, mas não pense que cada função dessas é apenas ir lá e apertar um botão e acabou, cada uma dessas ações conta com seu próprio mini-game, que você recebe uma pontuação e valores em dinheiro por cumpri-las! Por exemplo, cada cor de chicletes oferece um nível de resistência a ser arrancado, literalmente criando um luta entre você e ele, até mesmo com narrador gritando Fight! Já o processo de desentupir o vaso é está mais para um luta de boxe e o descarte do lixo para um arremesse de basquete.
Em paralelo a essas funções da lavanderia existe o “puxadinho” com algumas poucas máquinas de Arcade que também rendem algum dinheirinho e você obviamente deve coletá-los. Mas as coisas não ficam apenas no trabalho, durante o processo de lavagem e secagem que duram cerca de 3 minutos cada, você pode de fato experimentar os games disponíveis na área do Arcade, e de fato alguns são muito bons.
Os dias vão passando e o jogo vai evoluindo, aos poucos novos elementos são adicionados ao gameplay, entre eles estão o acesso ao computador do escritório, com acesso a internet discada é claro e tarefas diárias que rendem libras. Aqui as coisas ficam um pouco mais complexas mas também mais interessantes. O jogo trabalha com duas moedas, o digamos “cash” normal e as libras e eles são separados por dois motivos, primeiro que o cash é ganho conforme você entrega as roupas lavadas e secas, recolhe das máquinas de arcade e recebe pagamento pelas atividades corriqueiras. O segundo é de que as libras são ganhas ao completar tarefas especificadas pelo seu pai, segundo diz sua irmã Lesley, mas isso é meio que uma desculpa para receber esse dinheiro diferenciado.
Ambos os tipos de moeda são gastos através do computador, logo que você chega uma linda proteção de tela do labirinto clássico dos Windows 3.11/95 está rodando na tela, lá encontram-se meio de comprar novos arcades, expandir a área dos arcades e pagar eventuais questões, tudo isso é feito com o cash. Já as libras podem ser usadas para comprar melhorias para o nosso personagem, além é claro, de novas músicas para a Jukebox, num oferecimento da ‘NTV’. Tudo isso está disponível em arcaicos sites em HTML dos primórdios da internet, tudo bem simples com texto e imagens num fundo bastante chamativo, um serviço de e-mails também está inclusivo, com clientes te desafiando e fornecedor falando sobre as novidades disponível na loja.
Uma vez que você começa a adquirir novas máquinas e expande o negócio é preciso cuidar mais do gerenciamento de cada coisa e isso é feito pelo seu lindo PDA, sim um PDA, o avô do Smartphone moderno. Dentro dele temos acesso a muitas coisas como opções gerais do jogo, acesso às tarefas do dia, fluxo de caixa, o jogo da Lhama (sabe o jogo do dinossauro do Google Chrome? Então… aqui é uma Lhama), as melhorias do personagem e claro, o item mais importante, que é o gerenciamento do Arcade.
Vou começar por partes, as melhorias que são compradas com libras deixam o gameplay mais fácil para o jogador, uma vez que com elas pode-se comprar tênis que aceleram o personagem, óculos que dão zoom e facilitam achar o lixo espalhado, um livro de gerenciamento de tempo que permite que o tempo passe mais devagar enquanto você joga, o de engenharia que faz com que os fliperamas quebrem com menor frequência, outro ensina a mexer no computador liberando o “kit multimídia”, contendo reprodutor de música, vídeo, galeria de fotos e jogos clássicos como o campo minado e paciência (Solitaire), entre outras.
Já o gerenciamento pode ser feito máquina a máquina e alguns fatores ali são primordiais para conseguir maior sucesso. Cada máquina possui um nível de popularidade inicial e quatro objetivos a serem cumpridos, eles não são obrigatórios, mas oferecem um bônus adicional ao nível de popularidade dela, mas não pense que são fáceis, alguns beiram o ridículo do exagero, já outros vocês cumpre apenas jogando. Esse índice pode ampliado dependendo do local que a máquina está na loja, do tempo que você, dono do Arcade gastou usando-a, da limpeza que se encontra próximo a ela e claro do seu preço. Máquinas mais populares podem ter um nível de dificuldade maior e um preço mais elevado que ainda assim os consumidores vão pagar, máquinas menos populares devem ter esses fatores mais equilibrados, por outro lado, as máquinas mais populares podem servir como chamariz fazendo com que as menos populares próximas a ela tenham um melhor rendimento, dessa forma, ganha-se mais dinheiro. Tudo esse fluxo entre preço e dificuldade é mostrado em tempo real no PDA e você pode decidir a melhor estratégia para faturar mais.
Arcade Paradise pode parecer que é só isso, um jogo de repetição entre lavar a roupa, gerenciar máquinas de arcade, ganhar dinheiro, comprar mais máquinas e expandir o negócio, mas ele vai muito além disso para aqueles que estão dispostos a superar uma parte bastante maçante do gameplay. Existe uma história familiar no fundo disso tudo, a relação de dois filhos e um pai ausente que vai se desenrolando conforme o jogo progride, tudo isso acaba dando um peso diferente em toda aquela mecânica de gerenciamento e simulação, e que apesar de não ser um fator decisivo no game acaba por fazer bem o papel do plano de fundo da história pessoal dos personagens ali envolvidos.
Partindo do lado dos jogos, bom, são 35+ máquinas que podem ser compradas e jogadas pelo jogador, inclusive com acesso remote play para convidar os amigos a jogarem no seu fliperama. Arcade Paradise mistura muitos títulos e eras da história do arcade, você tem desde uma máquina que remete ao clássico Pong, como outro que mistura Pac-Man com GTA original, passando por outros como Arkanoid, Space Invaders, Double Dragon, Dr. Mario, Bomberman, Puzzle Bobble chegando a um Outrun com pegada de Enduro, enfim, é muita coisa e em sua maioria eles são muito divertidos e funcionam de verdade como jogos, não é algo que você simplesmente joga por 3 minutos e termina, alguns levam bastante tempo e digo mais, é bem possível que eu mantenha o game instalado só para visitar algum desses jogos novamente.
Essa escolha dos desenvolvedores de não se apegar numa era e ir evoluindo pode ser um ponto negativo para aqueles que esperam um fator simulação mais intenso, mas eu vejo claramente que isso não era a proposta do jogo.
Visualmente Arcade Paradise é apaixonante, cheio de neons, papéis de parede cafonas, gabinetes coloridos e bem desenhados, tudo é animado, tudo brilha, até mesmo quando o fliperama quebra, fica uma tela preta com o erro escrito em verde, como acontecia de verdade, o visor de cada máquina de lavar conta os segundos certinhos, a interface do jogo grita paixão que os desenvolvedores tiveram nesse jogo. A trilha sonora também diz muito sobre isso, são 28 músicas que estão disponíveis para serem compradas e tocadas no Jukebox, além da emissora de rádio e da sonorização de cada jogo. O game está localizado em Português do Brasil, com interface e legendas.
Mas como nada é perfeito, Arcade Paradise também comete seus deslizes. Eu presenciei poucos bugs mas eles existem, principalmente na contagem de uma tarefa como realizada, por mais de um dia (do jogo) eu simplesmente fazia mas não recebia o selo de feita. Além disso, existe um ponto lá pela metade do game que tudo fica muito intenso, você tem tarefas deveras complicadas, junto com máquinas quebrando com frequência e a lavanderia a todo vapor, aí é uma decisão sua, de focar no arcade e deixar de lado a lavanderia, uma vez que isso não gera consequências no jogo, ou tentar equilibrar tudo receber um volume maior de faturamento, mas eu vejo que deveria existir uma transição mais orgânica entre o volume de roupa pra lavar e quantidade de máquinas pra se jogar.
Em geral, eu levei mais ou menos 40 horas para concluir o jogo, sem fazer 100%, deixando algumas compras de melhorias e discos do Jukebox, o preço pedido nos consoles é um pouco salgado em comparação ao PC, mas ainda assim ele é perfeitamente jogável com controles e vale muito a pena, ainda mais se você gosta de jogos retro. Com isso tudo dito afirmo com certeza de que Arcade Paradise é um jogo incrível, eu só fico imaginando ele recebendo um patch para rodar em VR ou quem sabe futuras DLCs com jogos reais licenciados, o futuro pode ser muito promissor e o jogo merece.