The Gallery – Uma inversão de papéis convincente | Análise
A história do jogo se desenrola em dois momentos muito críticos, tanto politicamente, quanto socialmente
Analisado no PlayStation 4
The Gallery é um jogo que eu não tinha ouvido falar até receber ele para esta análise. Trata-se de um filme interativo, no qual você acompanha uma história por algumas horas e consegue intervir em algumas escolhas e qual curso isso tomará.
Antes mesmo de começar, o jogo oferece duas opções de narrativa que oferecem a possibilidade de iniciar a jornada com uma personagem feminina em 1981 ou com o personagem masculino em 2021. Apesar de os anos e personagens serem diferentes, a história é exatamente a mesma. Vamos acompanhar um curador de uma galeria de arte inglesa que não está lá muito bem das pernas e que mesmo assim apoia artistas menos conhecidos.
Na tentativa de se manter em pé, a galeria é vendida para uma artista mais famosa, com o intuito de chamar mais atenção do público. Como pano de fundo, temos o seguinte acontecimento: um artista surtado faz a (o) protagonista de refém enquanto cria um retrato dela (e). Portanto, toda e qualquer escolhe que fizéramos determinará o curso não só do personagem que comandamos, mas também de personagens secundários e até mesmo do país.
A história do jogo se desenrola em dois momentos muito críticos, tanto politicamente, quanto socialmente. Em 1981 temos o período em que havia tensão e desaprovação da Primeira Ministra Britânica. Em 2021 temos a Pandemia que dizimou mais 15 milhões de vidas desde que teve seu início em março de 2020. Aí você me pergunta: Mas, Thiago, como é possível a narrativa ser igual nas duas épocas se os momentos e circunstância são diferentes? Pessoal, o jogo faz uma amarração perfeita dessas singularidades e o restante é com você e seu conhecimento básico de história para entender que se o povo está descontente, não importa a época ou o lugar do mundo, o resultado é sempre igual.
O jogo nos coloca num universo profundamente britânico, o que acaba inibindo o impacto que a história tenta construir, pois os personagens estão inseridos intrinsecamente numa realidade diferente da nossa, o que torna tudo menos simpatizante.
Caso você escolha a protagonista de 1981, você assumirá o comando de Morgan, a curadora da galeria chamada Argyle Manor, que no período atual da história se encontra com pouco público que luta para se manter aberta, inclusive tomando decisões bem questionáveis, como por exemplo, deixar que exponham uma pintura da Primeira Ministra Britânica na galeria. A tensão política se instala instantaneamente.
E em meio a essa controvérsia, Morgan aceita ser modelo para um pintor chamado Dorian, o que acaba saindo complemente dos trilhos e quem determina o final disso tudo é você. Em meio a essa trama, descobrimos sobre relacionamentos com outros personagens, entendemos suas motivações e definimos um nível de relacionamento com o pintor surtado que a está mantendo como refém.
Em contrapartida, ao escolhermos o personagem de 2021, controlamos outro Morgan, cujo qual também é curador da galeria Argyle Manor. Há algumas pequenas diferenças de relacionamentos familiares e com personagens secundários, porém a história se mantém intacta, inclusive alguns diálogos se mantém os mesmos em ambas as épocas.
O filme/jogo possui cerca de 18 finais diferentes. Essa informação eu pesquisei, não joguei tantas vezes assim. Os profissionais que atuaram na trama são muito competentes e conseguiram apresentar suas leituras de cada personagem para cada época, o que torna tudo muito agradável de assistir. Ver a inversão de atores de uma época para a outra é muito satisfatório.
Esse filme interativo tem um diferencial, ele não usa modelo de atores reais, ele introduz gente de verdade, atores reais mesmo. Ou seja, é realmente um filme, só que com o diferencial de que você pode interagir e interferir em situações para guiar a trama de acordo com o você deseja. Durante a jogatina você precisa ser rápido, pois suas opções são cronometradas para atingir o timing das cenas.
The Gallery oferece uma fotografia linda, com cenas bem enquadradas em ângulos estratégicos, iluminação precisa e atuações que atingem o emocional do jogador. Em relação a trilha sonora, não temos nada demais, apenas tudo muito pontual, nada de impressionante. Mas no geral é um game ambicioso, funcional, que embora não seja um primor destruidor de tabus, ele entrega o que promete, garantindo boas horas de rotas interessantes. Se você é fã de filmes/jogos interativos, este com certeza é um para você!