Analisado no Nintendo Switch
Explore um mundo misterioso na vida após a morte e tente desvendar o enigma da antes acolhedora Outbound, sem esquecer de controlar suas emoções para derrotar seus piores pesadelos! Esta aventura com elementos de RPG se inicia ao você ser apresentado ao protagonista, que já partiu dessa para melhor, se encontrando completamente sem memória em uma cidadezinha chamada Outbound. Ao vagar pelos cantos melancólicos e ainda pouco coloridos da localidade, percebe-se que todos os habitantes dali também estão mortinhos da Silva e relatos apontam para um ataque de serial killer. Tudo é confuso e é você, o jogador, que precisa juntar as pistas e tentar desvendar esse mistério.
O jogo indie da Conradical Games lançado em 1 de dezembro pela Digerati, bebendo diretamente da fonte de carisma que é o jogo Paper Mario, apresenta uma aventura em RPG com combates por turno em uma temática na vida pós morte (que paradoxo) e te motiva a prosseguir na história para descobrir a razão de todos estarem mortos enquanto reflete por questões existenciais e treina suas emoções “figments”, tais como o arrependimento e a solidão, como se fossem seus Pokémon, para afastar as assombrações ou aparições que se jogam no seu caminho.
Verdade seja dita, mesmo que seja a intenção dos desenvolvedores introduzir o personagem e a história em um ambiente melancólico e ligeiramente “pós-apocalíptico”, com música beirando o fúnebre e cenário em tons quentes que remetem ao pôr do sol em uma despedida, a execução provavelmente não condiz com o planejamento: os primeiros minutos de Outbound Ghost são tediosos e até bem incômodos. O que poderia ser intrigante e estimulador acaba tendo resultado oposto. Outros jogos já usaram essa fórmula de maneira eficiente, como o Hollow Knight, onde você começa sua aventura sem nenhuma explicação, em um cenário que remete ao abandono e à destruição, e de maneira orgânica, todos os elementos do jogo te fazem percorrer até os mais longínquos caminhos para procurar por respostas. Isso, no entanto, não acontece em “The Outbound Ghost”: as cores amarelo-a vermelhadas deixam os primeiros cenários bastante feios e desmotivadores, fazendo toda uma área bem grande parecer “mais do mesmo” e beirar o genérico ruim. A música dos primeiros minutos também é inconveniente, te fazendo querer mudar rapidamente o cenário na esperança de algo um pouco mais recompensador.
A parte boa é que muito dessa atmosfera lânguida permanece somente no primeiro capítulo, e aí sim o visual do jogo te recompensa pela persistência, te levando a ambientes lindíssimos que inclusive te convidam à contemplação (há em muitos lugares um banquinho no qual você pode se sentar e ao fazer isso, a câmera muda o ângulo de forma a te mostrar todo o cenário de forma panorâmica). Também é bastante importante comentar que apesar de muitas aventuras alcançarem a plenitude em TVs enormes, foi no modo portátil onde me senti mais à vontade com o jogo. É colocar um fone de ouvido, se entregar à musiquinha (por vezes bastante gostosa, ao contrário da trilha do ponto de partida do jogo) e relaxar enquanto desvenda o mistério de Outbound.
Ainda falando sobre o modo portátil, algo que atrapalha muito a jogabilidade (muito mesmo) é a ilegibilidade de grande parte das opções de batalha. Os comandos estão escritos em letra tão pequena que nem ao tirar uma fotografia da tela e ampliar é possível ler o que está escrito ali. A impressão é que reduziram tanto o tamanho da fonte para caber em um espaço pequeno que tudo ali ficou apenas “para inglês ver”. Os comandos estão ali, mas ninguém consegue ler. Talvez, pensando nisso, foi incluído, fora das batalhas, uma opção para checar quais os golpes de cada “emoção”. É possível ler também uma breve descrição sobre cada golpe e tirar um pouco da frustração que o jogador provavelmente teve na batalha anterior, ao não conseguir analisar o melhor movimento para uma dada situação.
Com relação à história, apesar de os diálogos serem gradualmente esclarecedores, o ritmo é meio irregular: em momentos você fica completamente perdido e em outros se sente afogado em informações. Além disso, mais uma vez há provavelmente uma falha na execução de ideias, já que ao invés de os personagens terem carisma e personalidade, muitos deles apresentam ações completamente descabidas, como se o texto tivesse sido pouco trabalhado e já sido inserido assim mesmo no jogo. Para ser mais claro, alguns diálogos parecem até ter saído diretamente de histórias contadas por crianças, por não parecerem ter continuidade ou fazer sentido com o conjunto até então apresentado. Alguns dos desafios (aqui no sentido de “side-quests”) do jogo são exatamente fazer algo para resolver a “birra” de determinado NPC. Ele pode ter surtado e fugido em determinada cena ou ainda ser capaz de se irritar e entrar arbitrariamente em um lugar de onde ninguém sai vivo (mesmo já estando todo o mundo morto, hehe…). Assim, a impressão que fica é que as situações apresentadas são frequentemente inconvincentes, pelo menos para o público adulto.
Os combates lembram bastante as batalhas Pokémon, o que é enfatizado quando você percebe que na verdade não é o fantasminha que luta, mas sim os sentimentos até então acessados por ele. A analogia é como se você fosse um treinador dos seus sentimentos e da sua força mental e estes seriam os seus “Pokémon”. O jogo mesmo contextualiza várias vezes dizendo coisas como “você precisa controlar suas emoções para vencer os desafios”. Com o decorrer do jogo, mais dos “figments” estão disponíveis, sendo inicialmente possível controlar somente o “regret” ou arrependimento, que pouco tempo depois de jogo se junta ao figment “companheirismo”. A música de batalha, inclusive, parece muitíssimo com as de certos jogos dos monstrinhos de bolso. Apesar dessas analogias com Pokémon, várias diferenças são imediatamente visíveis. Durante o ataque, há um medidor que se desloca de maneira irregular antes que você desfira o ataque. É então necessário apertar o botão no momento certo para que esse indicador esteja no centro da barra e então o golpe atinja o oponente com mais força. Caso o indicador pare muito fora do centro, o golpe simplesmente falha dando o famoso ”miss”. Há também uma barra de “stun”, que ao encher, após os golpes do protagonista, fazem com que o inimigo fique sem agir por uma rodada, além de receber dano maior.
The Outbound Ghost infelizmente não conta com a localização para o português do Brasil, tendo como opções disponíveis o inglês e o espanhol, entre outros. Custando R$133,07 na eShop brasileira, dificilmente vai ser um jogo que você pegaria feliz por esse preço. Ele diverte bastante em alguns momentos, chegando a ficar bem gostosinho principalmente no modo portátil do Switch e depois de certo tempo te prende e te faz querer ficar mais para descobrir o que acontece. No entanto, a ilegibilidade de grande parte do conteúdo corta muitíssimo a sua alegria, além de que você precisa superar os primeiros longos e tediosos cenários para chegar na parte minimamente interessante do jogo, além de outros altos e baixos.