Baldur’s Gate 3 – Um bom RPG que não vai revolucionar o gênero | Análise

Analisado no PC


Baldur’s Gate 3 é um RPG de combate em turnos desenvolvido e distribuído pela Larian Studios. Após alguns anos em acesso antecipado, o título teve sua versão “final” lançada em 03/08/2023 para PC com versões para macOS e PlayStation 5 previstas para 06/09/2023.

Desde o seu lançamento, a franquia Dungeons & Dragons recebeu várias adaptações que tentaram traduzir as regras do jogo de tabuleiro para os jogos eletrônicos. São vários jogos e uma das séries mais tradicionais é a Baldur’s Gate que recebe sua terceira edição, agora feita pela Larian Studios que chega trazendo uma experiência de exploração e decisões sensacionais, mas pecando em seus sistemas de combate e RNG.

Quem esperava por uma sequência irá ficar desapontado, pois apesar de ter como base o mesmo universo e trazer algumas referências, Baldur’s Gate 3 não tem nada de Baldur’s Gate. A aventura se parece mais com Planescape: Torment ou Icewind Dale, outras adaptações que também se baseiam no universo D&D mas não seguem a mesma fórmula da série.

Sem spoilers, como dito acima, esta não é uma sequência e a história se passa a mais de cem anos à frente dos eventos do último jogo. A trama principal envolve nosso personagem que começa o jogo preso em uma nave nautiloid sendo infectado por um parasita devorador de mentes que em teoria irá nos transformar em pouco tempo. Após alguns eventos a nave cai e acabamos acordando em uma praia (qualquer semelhança com Divinity: Original Sin 2, último jogo da Larian, é mera coincidência), a partir daí partimos em uma aventura em busca da cura dessa enfermidade, encontrando e recrutando personagens que também sofrem da mesma aflição. A história principal demora a se desenvolver e não tem potencial para te prender, contudo a maneira com que a aventura se desenrola é onde o jogo brilha.

Em Baldur’s Gate 3 nós somos colocados em um mundo interativo, onde cada ação e decisão tem uma consequência, abrindo ou fechando caminhos e modificando os eventos de como toda a trama irá se desenrolar. Além da história principal, também temos várias secundárias, algumas que envolvem nossos companheiros e outras missões escondidas que você só irá encontrar caso explore o mundo. Essa liberdade é sensacional, todos os NPCs possuem interações e falas, você se sente jogando em um mundo vivo, aliás todas suas ações são permanentes e influenciam nas relações com seus companheiros de grupo.

A aventura é excelente e o mundo é rico, com mapas que não são tão grandes em tamanho, mas são densos em eventos e população. A exploração é feita na forma horizontal e vertical, temos vários puzzles e conflitos que às vezes podem ser resolvidos através do diálogo e outros que vão necessitar da boa e velha combinação de espada escudo e magias. Temos classes distintas, várias raças, magias e o tradicional sistema de pontos para criar a ficha do seu personagem.

Se a parte de exploração com as diversas possibilidades foi muito bem feita, infelizmente a adaptação dos sistemas D&D para RPG digital deixou muito a desejar. Quem tem experiência já sabe, mas para quem nunca jogou ou não conhece, os sistemas D&D são baseados em dados onde tradicionalmente o DM (Mestre de Dungeon) os joga para confirmar ou não as ações dos personagens e também o dano. Os sistemas utilizam dados diferentes em quantidade e também número de lados para cada tipo de ação, antigamente só o DM jogava dados, mas nas versões mais recentes tivemos adaptações que deixam o jogador rolar um tipo de dado fazendo com que a experiência se torne mais dinâmica.

Jogar dados em um RPG de mesa, não só faz sentido como funciona muito bem, pois além da aleatoriedade do sistema nós temos o DM que pode interferir, ignorando o resultado dos dados para modificar situações e garantir que a aventura continue. Computadores são ruins na geração de números aleatórios e levando isso em conta, vários jogos eletrônicos que se basearam na fórmula de D&D adaptaram um sistema de checagem de pontos de status para definir ações básicas e também uma fórmula de cálculo de dano mais fácil o que tornou o combate divertido e com poucas frustrações.

Por algum motivo a Larian decidiu que seria uma boa ideia traduzir quase que 1:1 os sistemas de RPG de mesa baseados na quinta edição de D&D, porém eles não levaram em conta os problemas que isso cria em um jogo onde não existe DM e os dados não são físicos. Assim os sistemas em Baldur’s Gate 3 “rodam” dados para literalmente tudo, desde abrir uma porta, até falar com NPCs e no combate, o RNG é horrível pois nada é de fato aleatório e o sistema não leva em conta seus status que só podem ser utilizados como bônus em determinadas ações e você literalmente fica refém de um algoritmo independente da forma com que você construir seu personagem.

Fizemos testes e o sistema simplesmente não faz sentido, carregamos save games várias vezes para testar algumas ações e mesmo atacando um personagem com todos o sistema de vantagem ao nosso favor a chance de errar é enorme. O sistema de dados é frustrante principalmente durante o primeiro ato, onde estamos com nível baixo e temos uma grande quantidade de combate, ele fica mais tolerável a partir do segundo ato, contudo conforme a história principal se desenvolve você terá de conviver com esses terríveis sistemas em diálogos e às vezes em sequências de duas ou três rolagens de dado que poderão te colocar em um caminho indesejável mesmo com personagens que tecnicamente seriam peritos no assunto.

Para tentar aliviar a frustração do sistema é possível usar e abusar do sistema de quick save e quick load, sendo possível salvar durante o combate e escolhas. Também temos a introdução de um sistema que os desenvolvedores chamam de dados Karmicos, esse sistema basicamente tenta evitar marés de azar influenciando nos resultados, o problema é que o sistema é aplicado no jogo geral e pode fazer com que os inimigos também não sofram de azar.

O combate dos jogos originais seguia o formato de tempo real com pausa, esse sistema foi substituído pelo tradicional combate por turnos utilizado em outros jogos da desenvolvedora. Tecnicamente o sistema continua o mesmo, com cargas de magia e descanso, contudo agora temos uma linha do tempo que dita a ordem do combate e cada personagem só pode fazer um movimento por turno a não ser que você tenha alguma habilidade passiva ou melhoria. Essa nova abordagem é no sentido ame ou odeie, como fã de XCOM eu gosto deste estilo, mas fãs mais tradicionais podem não gostar, pois o sistema de turnos deixa tudo muito lento.

O jogo foi feito tendo como base o motor Divinity 4.0 da desenvolvedora e é possível notar várias semelhanças gráficas com o jogo anterior Divinity: Original Sin 2. De toda forma Baldur’s Gate 3 chega como uma evolução gráfica, temos cenários bem detalhados e vários efeitos de iluminação e textura, entretanto nem tudo aqui parece estar pronto e os modelos de personagens são bastante limitados, algumas faces são estranhas e a criação de personagens deixa a desejar.

O desempenho é satisfatório, o jogo foi lançado com FSR 1.0/DLSS 2 e tecnicamente você irá conseguir rodar o título mesmo com uma configuração mais modesta, mas não espere ter um bom FPS pois em áreas mais movimentadas os quadros caem às vezes até abaixo dos 60, fato este que acontece com mais frequência a partir do ATO 3. É possível jogar solo ou em coop com até 4 jogadores em lan ou online, porém a experiência não é tão boa, no estado atual encontramos bugs em missões e problemas de conexão. Aliás o jogo não está 100% e em mais de 70 horas de jogatina foi comum encontrar bugs com switches e alavancas deixando de funcionar, mas foram problemas que se resolveram carregando o último ponto salvo algumas vezes.

No final, apesar de todo o hype Baldur’s Gate 3 não vai revolucionar o gênero nem mesmo subir a régua de qualidade. O jogo não é ruim, muito pelo contrário, a aventura é divertida e as interações e tramas secundárias encontradas durante a jornada preenchem a lacuna da história principal que não é tão interessante. Contudo o título não é perfeito, temos bugs, algumas limitações e seus sistemas de jogo são demasiadamente frustrantes pois tentam emular uma rolagem de dados aleatória que simplesmente não tem como ser transportada para o mundo digital. O preço cobrado é justo, mas por conta do sistema de jogo eu prefiro recomendá-lo atualmente somente para quem é fã de D&D e não se importa com os falsos dados e a falta de um DM.

Confira no vídeo abaixo um longo trecho de Baldur’s Gate 3 no PC:

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