Stellar Blade: Narrativa e hiper sexualização se chocam, mas o resultado agrada | Análise
Definitivamente uma proposta e uma experiência que vai além do que dá para imaginar.
Analisado no PlayStation 5
Stellar Blade veio aí, e conseguiu atrair os olhos vorazes dos gamers para diversos atributos e eu não estou falando sobre o que você está pensando, e sim sobre o desempenho da Shift Up, que fez sua estreia no cenário de jogos de console com um jogo bastante promissor, cheio de mulheres sensuais metendo bala em geral.
Stellar Blade oferece logo de cara, algo que se forma como um retrocesso no que diz respeito bom senso, ao utilizar mulheres curvilíneas em roupas sensuais em ângulos de câmera bastante tendenciosos. Sabemos que há uma gigantesca discussão em torno dessa objetificação feminina em jogos para agradar a molecada raivosa que xinga muito no Twitter (X), mas hoje esse não é o ponto, afinal, Stellar Blade é um caso à parte, pois toda essa sexualização de mulheres é apenas um detalhe e as características pessoais de Eve são extremamente cativantes e tornam a experiência do jogo um deleite.
Já comecem o jogo sabendo que a jogabilidade é um acerto em cheio, apesar da inexperiência do estúdio. Sendo um RPG de ação, ter uma jogabilidade satisfatória é imprescindível. A Shiftt Up fez um trabalho lindo ao referenciar as características de combate associado a esquivas e bloqueios que podem ser vistos em God of War, Devil May Cry e Bayonetta. E todas essas referências ficam muito orgânicas durante a jogatina, o que agrega mais pontos para um estúdio novato. As mecânicas utilizadas para atirar em inimigos a distância funcionam bem o jogo inteiro, tornando assim, o entrelaçamento de todos os sistemas, algo dinâmico que foge da monotonia. O timing de bloqueio e esquivas está afiadíssimo, dando aquela sensação de recompensa ao acertar, criando ainda mais curiosidade para dominar mais upgrades.
Esse jogo traz uma experiência de prazer, uma vez que não há sofrimento para acertar o timing de bloqueio dos ataques inimigos. Isso não quer dizer que seja fácil, mas há um equilíbrio muito grande, que consegue permear o desafio sem tornar maçante ou irritativo. Além disso, temos uma árvore de habilidades de ataque cheia de variações e combinações que estão em constante estado de aprimoramento. Esses ataques são essenciais quando se trata de causar dano à distância ou destruir escudos reforçados do inimigo. Na hora do desespero, tudo é válido.
Mas precisamos falar da história da Eve. Parafraseando minha sobrinha de 9 anos quando viu o trailer de Stellar Blade – “Uma mulher peituda de collant salvando o mundo, o que pode dar errado?” – Foi nesse momento que uma criança com menos de uma década de vida alugou um triplex na minha cabeça. Entretanto, o jogo surpreendeu a ela e a mim. Estávamos pensando que seria algo completamente nonsense e apelativo e acabou sendo algo satisfatoriamente interessante e curioso.
A história gira em torno de Eve, uma soldado modelo que vem do espaço com intuito de reconquistar a terra, que foi tomada por monstros poderosos. Essa narrativa é apresentada sem muita emoção, dando espaço para um hiper sexualização desenfreada compensando esse absurdo com muita adrenalina. Temos aqui um roteiro cheio de plot twists surpreendentes, oferecendo finais diferenciados em virtude das decisões tomadas. Há debates importantes durante o jogo, que te fazem pensar na obra como um todo, conseguindo se desligar da sensualidade extrema da personagem, e isso pra mim é o ponto alto, levando em consideração o que utilizaram para vender o jogo.
Apesar de não utilizar uma variedade de cenários que explorem biomas diferentes como vemos em Horizon Zero Down e Forbidden West, Stellar Blade nos dá um vislumbre magnífico de um mundo pós apocalíptico pronto para ser desbravado em missão primária ou se fazendo valer em missões secundárias ativadas por NPC’s ao longo do caminho. Essas missões são importantes para que possamos liberar habilidades ou blusinhas novas, bem como aprimorar equipamentos de combate. Ou seja, como você vai concluir o jogo depende da sua disposição de tempo.
Com uma jogabilidade incrível e uma história interessante, a trilha sonora tem por obrigação ser no mínimo coerente… E é aqui que está o pulo do gato: Eles conseguiram! A sonorização dos ambientes, dos elementos se chocando e a música para cada momento estão brilhantes. Foi tudo pensado milimetricamente. As faixas dialogam muito bem com o que está proposto no jogo, desde as músicas mais calmas, permeando o K-Pop até chutar a porta com o rock pesado que te faz sentir como se fosse o Rambo e sair derrubando tudo e todos. A arquitetura sonora é absurdamente orgânica e entrega tudo sem prometer nada.
Stellar Blade também apresenta uma qualidade gráfica impecável, um trabalho refinado com texturas lindas, roupas exuberantes e uma protagonista fantástica em todos os aspectos. Por algum motivo, quando olho para a Eve, eu penso automaticamente na Mai Shiranui de KOF. Os inimigos foram carinhosamente projetados para ser horríveis e assustadores, um design realmente caprichado.
Conquistar o público atualmente, é uma tarefa complexa, levando em consideração o tanto de questionamentos e incômodos que um jogo ou personagem podem causar. A hipersexualização de Eve é desnecessária e isso é fato, mas o jogo proporciona tantas experiências, que toda aquela apelação passa despercebido. Tem conteúdo no jogo e isso é lindo! E mais lindo ainda é saber que foi uma desenvolvedora novata que conseguiu tal proeza. Stellar Blade se sai muito bem em tudo que se propôs, se fincando no hall de RPGs divertidos e completos. Definitivamente uma proposta e uma experiência que vai além do que dá para imaginar.