Life is Strange: Double Exposure – Retorno ao multiverso emocional da franquia | Análise

Max Caufield volta ao universo de Life is Strange em uma jornada que explora escolhas, luto e novos desafios no mundo adulto.

Analisado no PlayStation 5


Life is Strange: Double Exposure marca o retorno de Max Caufield e da mecânica narrativa que define a franquia. Depois de uma década desde o primeiro jogo, a protagonista agora enfrenta o mundo adulto, onde os dilemas deixam de ser apenas questões da juventude para tocar em temas mais complexos e, por vezes, sombrios. O jogo, produzido pela Deck Nine, revive o universo de Life is Strange em uma nova direção, expandindo o conceito de escolha e consequência em duas linhas temporais distintas. Este retorno, no entanto, traz uma execução que divide opiniões. 

Ao longo da série Life is Strange, o enredo sempre girou em torno das mudanças de vida, principalmente da transição da adolescência para a vida adulta. Em Double Exposure, vemos uma Max Caufield mais madura, menos hesitante e com um senso de responsabilidade ampliado. Longe de Arcadia Bay e agora residente na Universidade de Caledon, em Vermont, Max tenta reconstruir sua vida após um passado marcado por traumas e escolhas difíceis. Suas preocupações são outras: ela precisa se manter firme na bolsa de estudos como fotógrafa residente e lidar com os desafios da convivência no campus, além de enfrentar um drama pessoal não resolvido,  o término com Chloe Price, sua amiga e amor do primeiro jogo.

Esse arco emocional é um elemento crucial em Double Exposure, e embora ele toque em temas densos como perda e superação, a narrativa às vezes falha em estabelecer a mesma conexão emocional intensa que consagrou o primeiro título. Max, enquanto personagem, parece mais distante e suas interações acabam, muitas vezes, presas em diálogos previsíveis ou carregados de sarcasmo. O roteiro tenta equilibrar momentos de melancolia e reflexão com referências culturais e tentativas de humor, mas essa mistura nem sempre encontra o tom certo, o que torna algumas conversas menos cativantes.

A mecânica de alternância entre realidades é, sem dúvida, o ponto alto de Double Exposure. A capacidade de Max de mover-se livremente entre o “Mundo Vivo” e o “Mundo Morto” cria uma experiência que mistura o sobrenatural com um ar de investigação. Max é impulsionada a buscar respostas após a morte de Safiya, sua melhor amiga, e a alternância entre as realidades permite que o jogador explore cenários sob diferentes perspectivas, reunindo pistas e testando teorias.

Infelizmente, essa mecânica nem sempre é explorada com a profundidade que o conceito permite. Embora o jogo dê a impressão de escolhas complexas, as possibilidades reais de ação são mais limitadas do que aparentam. Os quebra-cabeças, embora atraentes visualmente, são mais voltados para a observação de objetos específicos e para a resolução de ações lineares, deixando pouco espaço para a criatividade do jogador. Isso pode frustrar aqueles que buscam um nível de interação e liberdade que faça jus à proposta de alternância entre universos paralelos.

Um exemplo disso é uma sequência de furtividade na metade do jogo, onde Max deve utilizar dois pontos de deslocamento entre as realidades para evitar ser detectada. À primeira vista, essa seção parece promissora, mas logo se torna evidente que há apenas uma solução predefinida. Essa limitação desvaloriza a sensação de liberdade do jogador e faz o jogo parecer mais uma experiência linear do que uma história de escolhas e consequências.

Desde o lançamento do primeiro Life is Strange, a franquia é conhecida pela sua estética única e pela atmosfera introspectiva. Em Double Exposure, a Deck Nine opta por uma abordagem visual moderna, com melhorias significativas nas animações faciais e no design de ambientes. As expressões de Max e outros personagens são detalhadas, refletindo bem suas emoções e acrescentando nuances importantes à narrativa. É possível perceber pequenos gestos e olhares que complementam o drama da história, como o nervosismo em momentos de conflito ou o alívio em cenas de reconciliação.

Os cenários da Universidade de Caledon são um espetáculo à parte, com uma paleta de cores que varia entre tons sóbrios e luzes suaves, criando uma atmosfera melancólica. Os ambientes são ricamente detalhados, com cada cômodo e área do campus contendo pistas e objetos que refletem o estilo de vida e a personalidade de cada um dos personagens. Esses detalhes conferem profundidade ao universo e reforçam a sensação de imersão, algo essencial para um jogo focado em narrativa.

No entanto, o jogo não escapa de algumas falhas técnicas. Os efeitos de sombras e shaders, por exemplo, poderiam ter recebido um cuidado extra. Em certos momentos as texturas perdem definição e causam uma queda de qualidade visual que impacta a imersão. Para uma franquia que valoriza tanto a estética e o emocional, essas imperfeições acabam por distrair o jogador e reduzir o impacto dramático de algumas cenas.

A trilha sonora é, sem dúvida, um dos aspectos a ser mais elogiado de Double Exposure. Com uma seleção que combina faixas indie e instrumentais introspectivos, o jogo consegue transportar o jogador para um estado emocional condizente com a jornada de Max. A música tem um papel fundamental em Life is Strange e, aqui, ela continua a ser uma presença constante, marcando tanto os momentos de calma quanto os momentos de tensão.

É notável como a Deck Nine utiliza a trilha sonora para intensificar a atmosfera de solidão e nostalgia que permeia o enredo. As músicas ajudam a construir o clima das cenas e são um dos elementos que mais remetem ao estilo original da série. Para os fãs de longa data, essa escolha é um aceno aos momentos marcantes do primeiro jogo e reforça a conexão emocional com a franquia. Além disso, as músicas encaixam-se perfeitamente na jornada de autodescoberta e superação de Max.

Life is Strange sempre se destacou por explorar temas sociais relevantes e incluir personagens de diversas origens e orientações. Em Double Exposure, essa tradição é mantida. O jogo aborda de forma natural e respeitosa questões de identidade, gênero e inclusão, oferecendo um espaço seguro onde os jogadores podem se ver representados. A narrativa se desenvolve sem estereótipos óbvios, e o respeito pela diversidade é um elemento positivo que engrandece o título.

No entanto, essa inclusão nem sempre é bem contextualizada no enredo. Em alguns momentos, parece que certas falas e ações estão ali mais para atender a um propósito de inclusão do que para enriquecer a história de maneira orgânica. Esse tipo de escolha narrativa pode soar como algo artificial, tirando a naturalidade de algumas interações e reduzindo o impacto que temas sensíveis deveriam ter. Ainda assim, o jogo cumpre um papel importante ao normalizar esses aspectos e permitir que uma audiência mais ampla se sinta contemplada.

Double Exposure oferece um retorno ao universo de Life is Strange com uma proposta ambiciosa, mas que nem sempre alcança seu potencial. Para aqueles que têm um apego emocional à franquia, o jogo entrega uma dose de nostalgia e a chance de revisitar Max Caufield em uma nova fase de sua vida. Os cenários detalhados, a trilha sonora envolvente e a narrativa de muitos universos contribuem para uma experiência interessante, mas o título enfrenta desafios em sua execução.

A falta de profundidade na jogabilidade, as interações previsíveis e os diálogos que nem sempre convencem podem desanimar os jogadores mais exigentes. Mesmo assim, Life is Strange: Double Exposure é um título que merece uma chance, especialmente para fãs que buscam uma história cativante para as noites solitárias ou para aqueles que apreciam jogos focados em narrativa e atmosferas densas.

Life is Strange: Double Exposure não é um jogo para quem busca ação intensa ou mecânicas complexas, mas sim uma experiência que mescla mistério e emoção, onde cada decisão — mesmo as mais triviais — carrega um peso. Este é um título que respeita o legado da franquia e busca expandir seus temas, embora sem o impacto emocional que consagrou o primeiro Life is Strange.

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