Analisado no Xbox Series X
Desde o seu anúncio, Indiana Jones e o Grande Círculo despertou a curiosidade dos fãs por um simples motivo: o que esperar de um jogo inspirado nos filmes de uma das franquias mais icônicas de Hollywood, mas desenvolvido por um estúdio mais conhecido por jogos de tiro brutais como Wolfenstein? Bem, a resposta veio em 09 de dezembro de 2024, quando o título chegou para Xbox Series X|S e PC. Disponível desde o lançamento no Game Pass, o game oferece uma aventura que combina design inovador e a exploração que os fãs de Indiana Jones esperavam há décadas. Spoiler: não é só nostalgia.
A decisão da MachineGames de não criar apenas mais um jogo linear baseado em grandes cenários de ação foi ousada. Em vez disso, o estúdio buscou inspiração em títulos como Dishonored, apostando em um design de mapa aberto, intrincado e recheado de oportunidades para exploração horizontal e vertical. A narrativa se desenrola em cenários que evocam o melhor do cinema de aventura, com uma pitada de escolhas criativas que premiam tanto o jogador ávido por combates quanto os que preferem furtividade e solução de quebra-cabeças.
Mas, como veremos ao longo desta análise, essa abordagem mais ambiciosa trouxe tanto pontos altos quanto algumas limitações que, embora não arruínem a experiência, merecem destaque.
História: Aprofundando um capítulo perdido de Indiana Jones
A trama de Indiana Jones e o Grande Círculo se passa em 1937, cronologicamente situada entre Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark) e A Última Cruzada (The Last Crusade). Aqui, os jogadores se deparam com Indiana Jones já veterano, carregando tanto seus ideais quanto os conflitos que definiram o personagem nos filmes.
O jogo começa num tom nostálgico, recriando uma das sequências mais icônicas da franquia: a busca pelo ídolo dourado no Peru. Essa abertura não é apenas um tutorial bem integrado, mas também um presente aos fãs da série, oferecendo um vislumbre de como o game abraça suas raízes cinematográficas.
A verdadeira história, no entanto, começa algum tempo depois, quando uma invasão a Marshall College, local de trabalho de Indy, resulta no misterioso roubo de uma relíquia de uma escavação no Egito. A jornada o leva primeiro ao Vaticano e, como de costume, transforma-se em uma perseguição ao redor do globo, com paradas em lugares como templos ocultos na Ásia e desertos no Egito.
Se você é fã de narrativas clássicas de conspiração arqueológica, O Grande Círculo entrega de forma competente. O vilão da vez, Emmerich Voss, é um rival arqueólogo, determinado a usar artefatos místicos para ajudar os nazistas a expandirem seu poder, enquanto Gina Lombardi, jornalista que acompanha Indy em boa parte da aventura, traz um toque de frescor e dinamismo à narrativa.
Além do tradicional “Indiana contra os nazistas”, o jogo também apresenta momentos de introspecção, como o dilema de Indy sobre porque ele escolheu uma vida solitária ou a ausência de Marion Ravenwood, abordada de forma melancólica. Esse toque emocional adiciona uma camada inesperada e bem-vinda à história.
O enredo é bem costurado, com diálogos que capturam a essência dos filmes e uma progressão que mantém o jogador engajado. Cada local visitado por Indy não é apenas um cenário para a ação, mas um personagem por si só, cheio de segredos e histórias para contar. A narrativa é reforçada por cutscenes bem dirigidas e uma trilha sonora que evoca a grandiosidade das aventuras cinematográficas.
Jogabilidade e exploração: Indiana Jones Simulator? Quase Lá!
O maior trunfo de Indiana Jones e o Grande Círculo é o equilíbrio brilhante entre exploração livre e a sensação de estar “mergulhado” no papel do arqueólogo aventureiro. A cada passo, o jogo pede que você pense como Indy: desvende pistas, manipule objetos, e use sua engenhosidade para superar obstáculos.
O elemento que mais se destaca é o design dos mapas, que mistura a linearidade narrativa com hubs imensos e detalhados, cheios de segredos, rotas secundárias e soluções criativas. O Vaticano, por exemplo, é um pequeno mundo aberto que oferece até 10 horas de exploração — um verdadeiro labirinto com passagens verticais, atalhos e missões secundárias que, embora opcionais, aumentam significativamente a imersão.
Outro ponto louvável é o nível de interação com o ambiente. Pegue, por exemplo, o diário de Indy, que não apenas organiza as missões principais e secundárias, mas também funciona como ferramenta prática para resolver quebra-cabeças. Em vez de simplesmente ativar um marcador de objetivo ou exibir setas pelo mapa, o jogo desafia o jogador a folhear o diário em busca de pistas e referências visuais. Isso aumenta a sensação de ser realmente um arqueólogo desvendando mistérios antigos.
As áreas oferecem uma liberdade surpreendente. Quer invadir um templo resguardado por soldados nazistas? Você pode optar por um disfarce para entrar sem levantar suspeitas, encontrar um caminho alternativo pelo subsolo ou, para os mais ousados, enfrentar os guardas em combate direto. Essa flexibilidade cria uma experiência que honra a essência aventureira da franquia, ao mesmo tempo em que reflete o DNA de jogos como Dishonored.
A exploração é enriquecida por uma série de colecionáveis e itens escondidos que incentivam o jogador a vasculhar cada canto dos mapas. Esses itens não são apenas troféus de conquista, mas muitas vezes desbloqueiam novas habilidades ou fornecem informações adicionais que aprofundam a narrativa. A sensação de descoberta é constante, e cada nova área explorada traz a promessa de segredos a serem desvendados.
Gráficos: Visualmente encantador, mas com limitações
Visualmente, Indiana Jones e o Grande Círculo não redefine padrões, mas entrega cenários lindos e imersivos. Cidades como o Vaticano e os templos egípcios são artisticamente impecáveis. A iluminação dinâmica e os detalhes nos ambientes ajudam a criar uma atmosfera autêntica e envolvente, transportando o jogador diretamente para a era dos anos 30, onde as aventuras de Indiana Jones se desenrolam. A MachineGames fez um excelente trabalho ao capturar a essência dos locais históricos e ao mesmo tempo adicionar um toque de fantasia que é característico da franquia.
Os modelos dos personagens são bem animados, e as expressões faciais, embora não sejam perfeitas, são suficientemente detalhadas para transmitir emoções de forma eficaz.
No entanto, há problemas ocasionais que não podem ser ignorados. Texturas de baixa qualidade à distância, vegetação simplificada e alguns modelos de personagens menos detalhados podem quebrar a imersão em certos momentos, principalmente se estiver jogando no console. Isso é especialmente perceptível em cenas mais abertas, onde a qualidade gráfica pode variar significativamente. Além disso, houve quedas de frame rate em momentos de maior ação, o que pode ser frustrante para os jogadores mais exigentes.
Apesar dessas limitações, o jogo consegue se destacar em muitos aspectos visuais. As animações de combate são fluidas e cheias de personalidade, capturando perfeitamente os movimentos icônicos de Indy. As cutscenes são bem dirigidas e ajudam a contar a história de uma forma cinematográfica, mantendo o jogador engajado.
Os efeitos de luz e sombra são particularmente impressionantes, adicionando profundidade e realismo aos ambientes. A interação com o ambiente também é visualmente satisfatória, com objetos reagindo de maneira realista às ações do jogador. No geral, enquanto O Grande Círculo pode não ser o jogo mais impressionante graficamente da geração, ele certamente oferece uma experiência visualmente rica e encantadora que complementa a jogabilidade e a narrativa.
Comandos: Intuitivos, mas com algumas ressalvas
Os comandos em Indiana Jones e o Grande Círculo são, em grande parte, intuitivos e bem projetados para proporcionar uma experiência de jogo fluida. Desde os movimentos básicos até as ações mais complexas, o layout dos controles foi claramente pensado para facilitar a imersão do jogador no papel de Indiana Jones. A MachineGames acertou ao criar uma interface de usuário que é ao mesmo tempo acessível para novatos e satisfatória para jogadores mais experientes.
Os comandos de movimento são responsivos, permitindo que Indy se mova com agilidade pelos diversos ambientes do jogo. A combinação de botões para ações como saltar, escalar e se agachar é intuitiva, e o jogo oferece um bom equilíbrio entre liberdade de movimento e controle preciso. A transição entre andar, correr e se esconder é suave, o que é crucial para um jogo que valoriza tanto a furtividade quanto a exploração.
O uso do chicote, uma das marcas registradas de Indiana Jones, é particularmente bem implementado. Ele pode ser usado tanto em combate quanto para resolver quebra-cabeças, como balançar em abismos ou puxar alavancas distantes. A sensação de usar o chicote é satisfatória.
No entanto, nem tudo é perfeito. Alguns jogadores podem achar que a interface de inventário e o sistema de seleção de itens são um pouco complicados, especialmente em momentos de alta pressão. Navegar pelo diário de Indy, que é essencial para resolver muitos dos quebra-cabeças do jogo, pode ser um pouco demorado, e a interface poderia ser mais ágil.
Além disso, há problemas em relação ao sistema de mira durante os tiroteios. Embora o jogo não se concentre tanto em combate com armas de fogo, as seções que exigem tiro podem parecer menos polidas. A mira pode ser um pouco imprecisa, e a falta de um sistema de cobertura robusto significa que os tiroteios podem se tornar frustrantes em espaços apertados.
Apesar dessas reservas, os comandos de Indiana Jones e o Grande Círculo são, em sua maioria, bem projetados e contribuem para uma experiência de jogo agradável. A MachineGames conseguiu criar um sistema de controle que respeita a complexidade do personagem e do mundo de Indiana Jones, ao mesmo tempo em que oferece uma interface acessível para todos os tipos de jogadores.
Combate e Mecânicas: Quando o chicote é Rei
Apesar do enfoque na furtividade, o combate em O Grande Círculo também é bem explorado — e quase tão divertido quanto circular por mapas secretos. Indiana Jones não é um militar, e isso transparece no design das lutas: o jogo favorece golpes improvisados, lutas caóticas com objetos do ambiente e, claro, o icônico chicote.
Ao bater, desviar e executar movimentos de finalização, é difícil não sentir a visceralidade dos combates corpo a corpo. Usar “armas” como violinos ou martelos para atacar inimigos faz de cada confronto uma experiência quase cômica, mas sempre satisfatória.
Já no tiroteio, o jogo dá um deslize inesperado. Surpreendentemente para um estúdio especializado em FPS, as armas carecem de impacto. Além disso, os inimigos conseguem absorver balas de forma exagerada, criando momentos esquisitos onde um nazista parece “blindado”.
A IA, infelizmente, também prejudica a experiência. Soldados inimigos têm padrões de patrulha previsíveis, visão periférica praticamente inexistente e, muitas vezes, deixam de reagir mesmo em situações absurdas — algo que quebra um pouco a imersão.
O sistema de combate é complementado por uma série de habilidades que podem ser desbloqueadas ao longo do jogo. Essas habilidades variam de melhorias na resistência física de Indy a novos movimentos de combate que tornam as lutas mais dinâmicas e variadas. A progressão é bem balanceada, e o jogador nunca se sente sobrecarregado por opções, mas sempre incentivado a experimentar novas táticas.
Quebra-cabeças e mecânicas arqueológicas – Tudo na medida certa
Nenhuma aventura de Indiana Jones está completa sem tumbas e enigmas. Nesse sentido, Indiana Jones e o Grande Círculo não decepciona. Os desafios são variados — desde reflexos de luz em espelhos no Egito, até alinhamentos de engrenagens em templos asiáticos. Eles proporcionam aquele delicioso momento de satisfação ao solucioná-los.
No entanto, o nível geral de dificuldade dos quebra-cabeças é acessível. Nenhum deles exige conhecimento profundo nem frustra o jogador, o que pode decepcionar aqueles que esperam um desafio mais cerebral.
Os quebra-cabeças são integrados de forma inteligente à narrativa e ao ambiente. Cada enigma resolvido não apenas avança a trama, mas também revela mais sobre o mundo do jogo e os mistérios que Indy está tentando desvendar. A sensação de progresso é constante, e o jogador é recompensado com novas áreas para explorar e novas pistas para seguir.
Além dos quebra-cabeças principais, o jogo também oferece uma série de desafios opcionais que testam a habilidade do jogador em pensar fora da caixa. Esses desafios opcionais são muitas vezes mais complexos e exigem uma compreensão mais profunda das mecânicas do jogo. Eles são uma excelente maneira de manter o jogador engajado e oferecer uma sensação de realização para aqueles que buscam completar todos os aspectos do jogo.
Som: Uma jóia rara
A trilha sonora, por outro lado, rouba o show. Gordy Haab criou composições que remetem à clássica trilha de John Williams, e a atuação de voz de Troy Baker como Indiana é excelente. Mesmo longe de ser Harrison Ford, ele consegue transmitir o carisma e a irreverência do personagem. E isso se repetiu também na dublagem em português muito bem realizada por Marcelo Pissardini.
O design sonoro é outro ponto forte do jogo. Além da trilha sonora, os efeitos sonoros são cuidadosamente trabalhados para criar uma atmosfera autêntica. Desde o som do chicote estalando até o ruído dos passos de Indy em diferentes superfícies, cada detalhe sonoro contribui para a imersão do jogador no mundo do jogo.
Indiana Jones e Um Círculo Quase Perfeito
Indiana Jones e o Grande Círculo é uma experiência memorável que honra e expande o legado de Indiana. Embora tropece em questões como IA e problemas técnicos ocasionais, a narrativa envolvente, os mapas ricos em design e a atmosfera nostálgica tornam este um dos títulos mais refrescantes do ano.
Se você é fã da franquia ou busca uma aventura que te desafie a pensar fora do óbvio, este jogo é uma recomendação fácil. E mesmo com suas imperfeições, ele prova que Indiana Jones ainda tem um lugar cativo no mundo dos games.