
Analisado no PC
Sabe aquele jogo que entra no seu radar por diversos motivos? Pois é, essa é minha história com Mark of the Deep. Na gamescom latam de 2024, entrevistamos Luiz Tashiro, CEO da Mad Mimic e tivemos a oportunidade de jogar uma demo do game, que me deixou muito entusiasmado.
Dito e feito, recebemos o jogo para análise, e nem pensei duas vezes e já parti direto para a jogatina. Mas será que aquele entusiasmo continuou? É o que vamos descobrir nesta análise.
Bom, como posso descrever Mark of the Deep em poucas palavras? Imagine uma mistura de Metroidvania com um toque de Soulslike, algumas influências de roguelikes e uma pitada de Diablo — tudo isso embalado com gráficos isométricos e uma ambientação sombria. Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Mad Mimic, responsável por títulos como Dandy Ace, o jogo promete uma aventura única em uma ilha amaldiçoada. Mas será que essa mistura ambiciosa de gêneros se sustenta na prática?
Disponível para PC, (Versões para Switch, PS5 e Xbox Series X|S previstas para este ano), Mark of the Deep é um jogo que chama atenção inicialmente por seu visual atraente, mas enfrenta o desafio de se destacar em um mercado saturado de indies inspirado em ícones como Hades e Dark Souls. E, embora traga algumas ideias interessantes, é difícil ignorar os problemas que o impedem de brilhar tão fortemente quanto poderia.
Uma história que mergulha na melancolia
Você assume o controle de Rookie, um pirata que naufragou em uma ilha sinistra cheia de mistérios, monstros e segredos perdidos no tempo. A trama, apesar de simples, cumpre seu papel ao lançar Rookie em uma jornada para resgatar membros sobreviventes de sua tripulação, reconstruir um acampamento e escapar do domínio do senhor do abismo.
O jogo lentamente revela fragmentos de seu lore por meio de diálogos, textos em tablets e interações com os habitantes não-humanos da ilha. As histórias fragmentadas de laboratórios submersos, ruínas ancestrais e criaturas lovecraftianas — como hordas de mortos-vivos, caranguejos gigantes e monstros abissais — adicionam um toque de mistério e perigo constante. Porém, a trama atua mais como um pano de fundo para a exploração e o combate.
Infelizmente, para quem busca uma narrativa mais rica e envolvente, o jogo pode decepcionar. Embora exista uma base interessante, os eventos e personagens raramente deixam uma impressão duradoura. A história aqui é funcional, mas não memorável, servindo mais como combustível para as mecânicas do jogo do que como um elemento central.
Combate variado com potencial (e dores de crescimento)
Mark of the Deep oferece um sistema de combate que combina estratégia e ritmo, com Rookie sempre carregando sua arma principal: um gigantesco gancho de pesca. A arma é tanto uma ferramenta de combate quanto parte essencial da exploração. Com ela, Rookie pode atacar inimigos, desviar de perigos e até atingir interruptores à distância para resolver certos puzzles.
À medida que você avança, novas armas como o revólver flintlock são desbloqueadas, adicionando variedade ao arsenal. O flintlock, por exemplo, permite carregar disparos com altas doses de dano, o que funciona bem para combater inimigos ou chefes mais resistentes. Além disso, Relíquias especiais oferecem buffs, como prolongar o alcance do gancho ou reduzir o tempo de recarga do rolamento.
Porém, o combate, embora divertido em certos momentos, sofre com algumas dificuldades de execução. A prioridade de animação, onde o movimento do personagem é “travado” até que a animação seja concluída, tira a fluidez necessária durante combates intensos. Isso frequentemente resulta em “hits” frustrantes (golpes que não deveriam acertar mas acertam), especialmente em batalhas contra chefes, onde milissegundos são cruciais.
Adicionalmente, a dificuldade está longe de ser punitiva, mas exige atenção constante. Rookie não é o herói mais ágil do mundo, então posicionamento e timing correto são fundamentais — um aspecto que deve agradar fãs de Soulslike, mas pode afastar jogadores menos experientes.
Exploração: O labirinto repetitivo
Um dos maiores problemas do jogo está na navegação pela ilha. Com uma abordagem não-linear, Mark of the Deep pede ao jogador que desbrave o cenário, abrindo atalhos e revisitando áreas para progredir. Isso deveria ser uma experiência recompensadora, mas a falta de um mapa combinado com os cenários pouco distintos visualmente torna a exploração cansativa.
Ao invés de memoráveis marcos visuais, cada sala parece uma repetição da anterior, o que dificulta entender para onde ir em mapas intrincados. Embora “não ter mapa” seja uma escolha estilística de muitos Soulslikes e Metroidvanias, a falta de landmarks claros torna-se uma fonte constante de frustração. É fácil acabar perdido, correndo repetidamente pelos mesmos corredores sem saber se o caminho tomado é realmente novo ou apenas um looping de áreas já exploradas.
Mad Mimic pode ter buscado inspiração na lógica sutil de mapas da série Dark Souls, mas aqui o resultado é muito mais confuso e prejudica a experiência.
Chefes: Desafiadores demais ou longos demais?
Os chefes de Mark of the Deep são pontos altos e baixos ao mesmo tempo. Eles apresentam padrões de ataque variados e desafiam o jogador a aprender seus movimentos para derrotá-los. No entanto, a duração exagerada dessas lutas pode ser um problema.
Certas batalhas se arrastam além do necessário, tornando-se mais um teste de resistência do que de habilidade. Embora o combate seja satisfatório no geral, a repetitividade inerente dessas lutas longas pode frustrar.
Gráficos e performance: Belo, mas sem personalidade única
Mark of the Deep utiliza a Unreal Engine para criar um visual isométrico competente e atraente. Os gráficos são nítidos e o jogo apresenta um desempenho sólido, sem problemas técnicos notáveis. No entanto, sua estética lembra demais outros títulos do gênero, como Hades ou Curse of the Dead Gods, causando a sensação de déjà vu.
Dito isso, o design das criaturas e a ambientação sinistra ajudam a manter o jogo visualmente interessante, mas falta um toque de inovação para que ele se destaque no saturado universo dos indies isométricos.
Áudio: Mergulhando no abismo
A trilha sonora e os efeitos sonoros do jogo, embora adequados, não são particularmente marcantes. A música mantém o caráter sombrio e misterioso do cenário, mas carece de faixas memoráveis que permaneçam com o jogador mesmo após desligar o console.
Por outro lado, os sons ambientais, como o estrondo das ondas ou o chiado do vento, ajudam a construir a atmosfera imersiva da ilha amaldiçoada.
Mas… a parte que mais esperei que fosse me conquistar, mme decepcionou. Para fazer a dublagem do jogo, a estúdio chamou várias personalidades e influencers do mundo dos games como Ana Xisdê, Rakin, Patife, Thaiga e Tiago Leifer, mas o resultado final foi decepcionante. Não sei se foi a direção ou a falta de costume dos convidades, o trabalho acabou ficando sem vida, onde, muitas vezes, sendo que as falas vazias, sem vida e muitas vezes até tirando a imersão do jogo. O que parecia ser uma ideia interessante, realmente naufragou.
Progressão e upgrade: De volta ao acampamento
Mark of the Deep utiliza um sistema de progressão persistente, o que significa que morrer não resulta na perda de recursos importantes. Após cada morte, Rookie retorna ao último ponto de controle, onde tem a chance de gastar o ouro acumulado em upgrades e itens no acampamento base.
Essas melhorias ajudam tanto no combate quanto na navegação, mas a progressão poderia ser mais robusta. O acampamento se desenvolve com o tempo, à medida que sua tripulação cresce e oferece novos serviços, mas nunca atinge um nível de complexidade que o torne realmente atraente.
Vale a pena explorar Mark of the Deep?
Mark of the Deep é uma mistura interessante de gêneros que oferece ideias promissoras, mas que infelizmente tropeça em sua execução. A navegação frustrante, a dublagem e problemas no combate comprometem parte da experiência, mas há momentos de brilho, como a progressão persistente, os gráficos consistentes e o mistério da ilha.
Para jogadores que apreciam Metroidvanias ou jogos isométricos com influências Soulslike, há diversão a ser encontrada aqui, mas isso exige um pouquinho de paciência. Apesar de promissor, Mark of the Deep se sente como uma “versão beta” de algo maior, que poderia brilhar com ajustes futuros.